quarta-feira, 24 de abril de 2024

John McTiernan - "O Último Grande Herói" / "The Last Acion Hero"


John McTiernan
"O Último Grande Herói" / "The Last Acion Hero"
(EUA - 1993) – (130 min. / Cor)
Arnold Schwarzenegger, Austin O’Brien,
Charles Dance, Anthony Quinn, Ian McKellen.

“O Último Grande Herói”/ “The Last Action Hero” é, certamente, a melhor película de John McTiernan e não nos podemos esquecer de outros filmes na sua filmografia como “Die Hard”, “Predador” ou “The Thomas Crown Affair”, mas este Herói saído directamente da tela para o mundo real é na verdade genial. Não só por toda a estrutura do filme, com o mundo do cinema a ser invadido por um miúdo que cai, literalmente, dentro do descapotável de Jack Slater (Arnold Schwarzenegger), como posteriormente será o herói a descobrir como é diferente o mundo real do universo da ficção.


Como todos nos recordamos, Woody Allen, com a sua obra-prima “A Rosa Púrpura do Cairo” / "The Purple Rose of Cairo", cuja acção se passa no período da depressão, ofereceu-nos esse momento único em que um personagem de ficção sai do écran em direcção à espectadora que diariamente assiste ao filme perfeitamente apaixonada pelo herói, dando origem ao romance impossível. Mas Woody Allen não foi o autor desta ideia de génio, já que foi Buster Keaton que no seu maravilhoso “Sherlock Holmes Jr.” nos envia o projeccionista para o interior do filme levando-o a passar de género em género ao longo da película. Esta ideia ficou de tal forma solidificada na mente de muitos que, até na Eurodisney em Paris, uma das ofertas foi durante alguns anos uma média-metragem intitulada "cinemagique" onde um espectador e o seu telemóvel entram para dentro do écran e vivem as mais diversas peripécias enquanto percorrem a História do Cinema.


Voltando a “O Último Grande Herói”, encontramos nele todo o saber cinéfilo de um cineasta, onde o jogo de citações é perfeitamente genial, acompanhado de diversos “cameos” de actores bem conhecidos, para perfeito deleite de Danny (Austin O’Brien), quando Sharon Stone passa por ele, ou o cartaz-anúncio de “O Exterminador Implacável” com Sylvester Stallone no protagonista, para já não falarmos naquele momento mágico vivido por todos nós na cinefilia da infância, em que Danny avisa Slater que F. Murray Abraham é o homem que assassinou Mozart. Poderíamos ficar aqui a divagar nas piscadelas de olho cinéfilas do argumentista, mas o momento alto reside na personificação da morte, saída directamente de Ingmar Bergman e da sua obra-prima “O Sétimo Selo”, interpretada aqui por Ian McKellen.


Depois temos o encontro de Slater com o mundo real, para mais tarde se confrontar com o actor que o interpreta no écran, Arnold Schwarzenegger ele mesmo acompanhado pela própria mulher Maria Shriver (na época em que o filme foi produzido), numa sequência perfeitamente delirante no dia da estreia de mais uma aventura de Jack Slater, surgindo no écran do “film on film”, as melhores sequências de acção da película.


Mas antes de terminarmos não podemos deixar de mencionar o duelo de palavras e comportamento entre Anthony Quinn (na figura do mafioso Tony Vivaldi) e Charles Dance (um Benedict com um olhar camaleónico, acompanhado de um estilo muito british: o verdadeiro gentleman dos gangsters).


Todos nós que já fomos crianças e sonhámos viver as aventuras dos nossos heróis na infância, fossem eles do écran ou dos livros, encontramos em “O Último Grande Herói” / "The Last Action Hero" um dos mais geniais filmes de acção, de homenagem ao cinema e ao seu espectador e se por acaso um dia o leitor encontrar na sala de cinema um bilhete no chão da plateia a brilhar intensamente, ficará a saber que nele reside certamente a magia dessa Sétima Arte chamada Cinema.

Rui Luís Lima

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