quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Orson Welles - "A Guerra dos Mundos"


Orson Welles e "A Guerra dos Mundos"

A verdade dos factos do dia 30 de Outubro de 1938!

A data escolhida para a emissão foi o dia 30 de Outubro de 1938. A América estava cada vez mais preocupada com a Europa, perante o renascimento da Alemanha, que com a sua máquina de Guerra ameaçava tudo e todos. Como sabemos, a Guerra Civil de Espanha tinha servido para testar a eficácia do armamento alemão, mas os americanos também estavam cada vez mais preocupados com os discos voadores.


O Planeta Marte aterrorizava o cidadão comum, não eram só os filmes de série-B que cada vez mais se centravam na temática marciana com uma invasão da terra, mas também eram cada vez mais os cidadãos que diziam ter avistado disco voadores no céu, alguns até afirmavam ter sido raptados por extra-terrestres, mas depois de libertados a maioria não se recordava de nada do que se passara, embora alguns ainda tivessem as forças suficientes para descreverem pormenorizadamente esses seres malignos que pretendiam conquistar o nosso planeta.


Foi neste clima de medo que Orson Welles e a sua equipa habitual do “Mercury Theatre”, anunciou na rádio que iria transmitir uma peça intitulada “A Guerra dos Mundos”, adaptada ao tempo presente e baseada no famoso romance de H.G.Wells.

No entanto todas as pessoas que ligaram os rádios depois das 20 horas já não tiveram oportunidade de escutar o aviso de Orson Welles, não nos esqueçamos que na época se viviam os famosos dias da rádio, tão bem retratados no filme de Woody Allen.


Após o início da peça, o jovem Orson Welles, desconhecendo que acabara de entrar para a História, sentou-se na sua cadeira e acompanhou calmamente a emissão, como fazia habitualmente.

A emissão começou para cerca de 32 milhões de ouvintes e o locutor anunciou que um meteorito vindo do planeta Marte tinha caído em New Jersey, dele estavam a sair tropas marcianas que possuíam o raio da morte que iria aniquilar a humanidade. O relato do avanço das tropas marcianas na América continuou, até que um comunicado do Ministério do Interior foi emitido a aconselhar a calma à população norte-americana, recomendando determinadas medidas, para se salvaguardarem dessas terríveis criaturas, que tinham invadido o planeta.


New Jersey estava praticamente devastada e a superioridade das armas marcianas era de tal ordem que não se encontrava forma de deter o seu avanço, ao mesmo tempo eram anunciadas quedas de outros meteoritos de onde desembarcavam cada vez mais tropas marcianas. A América estava perdida!

O pânico instalou-se nas cidades e milhares de pessoas começaram a invadir as estradas e os campos, em fuga dessa estranha morte vinda do espaço. As ruas de New York começaram a ficar repletas de pessoas em perfeito estado de choque à espera do pior, entretanto a emissão radiofónica anunciava que os marcianos se aproximavam da Quinta Avenida enquanto o rio East já se encontrava repleto de cadáveres, ao mesmo tempo as igrejas começaram a albergar as muitas almas que ainda acreditavam que um milagre seria possível.


Orson Welles, Joseph Cotten e Ray Collins dão por terminada a emissão teatral dessa noite e só então se apercebem que tinham provocado o pânico generalizado “coast to coast” em toda a América.

Nos estúdios da CBS os telefones não paravam de tocar e a polícia na rua era forçada a recorrer à violência para impedir as pilhagens que já se tinham iniciado. Foi necessário que todas as estações de rádio começassem a emitir boletins noticiosos informando que nada se tinha passado, apenas se tratando da adaptação teatral de um famoso livro escrito por H. G. Wells e transposta com enorme realismo para esse memorável dia 30 de Outubro.


A celebridade de Orson Welles tinha acabado de nascer, o “wonder-boy” tinha colocado a América à beira de um ataque de nervos. Mas o autor do livro, o célebre H. G. Wells, enviou de Londres um telegrama a Orson Welles, discordando das “liberdades criativas” usadas por este na sua adaptação teatral para a rádio do conhecido livro, tendo o clima ficado de tal forma escaldante entre o escritor e o encenador, que H. G. Welles depois de saber em pormenor o sucedido na América instaurou um processo a Orson Welles. Recorde-se que no pânico generalizado, centenas de pessoas ficaram feridas ou foram agredidas e roubadas.


Orson Welles subiu ao trono e a RKO deu-lhe total liberdade criativa para ele fazer um filme, algo inédito nessa época em que os Grandes Estúdios reinavam e controlavam todas as fases de produção com mão de ferro. A película seria “Citizan Kane” / “O Mundo a Seus Pés” e a sua importância na História do Cinema é conhecida de todos, quanto ao romance de H. G. Wells, ele continua a ser uma das obras-primas da literatura de ficção-cientifica.

Mas o pânico que a emissão teatral de Orson Welles espalhou em toda a América nessa noite memorável, da qual hoje se comemora mais um aniversário, ficou para sempre na História da Rádio, haja ou não marcianos no Planeta Vermelho ou será que eles vieram para a Terra e todos nós somos seus descendentes?

A emissão de "A Guerra dos Mundos" de Orson Welles é a mais célebre da história da rádio!

Nota: Em Portugal, Matos Maia fez uma adaptação radiofónica deste livro de H. G. Wells.

Rui Luís Lima

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