quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Georges Méliès - "Viagem à Lua" / "Le Voyage dans la Lune"


Georges Méliès
"Viagem à Lua" / "Le Voyage dans la Lune"
(França-1902) - (14 min. - Mudo - P/B)
George Méliès, Victor André, Depierre, Farjaux, Kelme.

George Méliès foi o homem que, depois de ter visto os filmes dos irmãos Lumière, percebeu que tinha nascido uma nova Arte e de imediato decidiu construir um Estúdio em Montreuil-sous-Bois, onde irá desenvolver intensa actividade, sendo o inventor dos hoje mais que conhecidos efeitos especiais. No entanto estes surgiram por acaso quando filmava numa rua de Paris: a câmara encravou e quando retomou as filmagens criou o primeiro efeito especial. Este génio sonhador, leitor de Jules Verne, decidiu passar para o cinema a famosa “Viagem à Lua”, que irá fazer com que todos lhe fixem o nome para sempre.


Iremos, no início do filme, assistir ao congresso de Astronomia onde se encontra o famoso professor Barbenfouillis, que decide construir um canhão para lançar o foguetão para o espaço, rumo à Lua, esse planeta que sempre tem fascinado a humanidade. Conseguido o feito, os seus tripulantes irão desembarcar no planeta e descobrir nele os famosos selenitas com cabeça de camarão (habitantes desse desconhecido território), mas também irão encontrar uns estranhos e perigosos cogumelos, para além das inevitáveis estrelas que navegam no espaço.


Contando com a colaboração de bailarinos e acrobatas do Folies Bergére, George Méliès constrói uma obra que irá ficar para a história do cinema como o primeiro filme de ficção-científica. Regressados à terra, os tripulantes da nave são recebidos como heróis, o mesmo sucedendo a Méliès, que rapidamente se transforma num cineasta de renome mundial. Mas a luta que então se desenvolvia no meio cinematográfico, ainda nascente, irá conduzi-lo rapidamente à ruína, para a qual a Primeira Guerra Mundial deu também o seu contributo, terminando os seus dias a gerir uma pequena loja de brinquedos na estação de Montparnasse, esquecido por todos.


“A Viagem à Lua” / "Le Voyage dans la Lune" de Georges Méliès encontra-se em exibição permanente no Museu da Cinemateca Francesa e a sua visão é um dos mais belos acontecimentos a que um cinéfilo pode assistir.

Rui Luís Lima

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Edwin S. Porter - "The Great Train Robbery"


Edwin S. Porter
"The Great Train Robbery"
(EUA – 1903) – (13 min. – Mudo - P/B)
Tom London, George Barnes, Bronco Billy Anderson,
Walter Cameron, Marie Murray.

Ver este filme mudo numa sala de cinema foi um prazer só igualável quando descobrimos, também em sala, essa obra-prima dos irmãos Lumière “L' arrivé du train en gare” que, no dia 28 de Dezembro de 1895 no Grand Café, situado no nº.14 do Boulevard des Italiens, provocou o pânico nos espectadores que assistiam ao nascimento de uma nova Arte, com a aproximação “perigosa” da locomotiva originando a debandada geral para não serem trucidados pelo comboio ou ainda essa obra mágica criada pelo mestre da truncagem Monsieur George Méliés e a sua célebre "Viagem à Lua" / "Le Voyage dans la lune".


Referimo-nos a estas três obras porque todas elas marcam momentos fundamentais na História do Cinema. Os Lumiére com a invenção do Cinema, Méliès e o nascimento dos “Efeitos Especiais” e Edwin S. Porter realizando o primeiro “Western”, criando um género cinematográfico, ao mesmo tempo que dava um famoso passo nessa arte criativa que é a montagem. E dizemos isso porque, no final do filme, surge-nos um grande plano do rosto do bandido, com os seus enormes bigodes, o chapéu e a disparar o revólver na direcção do espectador, estávamos em 1903.


Curiosamente, quando o filme foi exibido, foi dada indicação aos projeccionistas que poderiam colocar esse grande plano em qualquer momento do filme, provocando desta forma não só a atenção do espectador, como criando uma linguagem profundamente cinematográfica, demonstrando a capacidade e a importância do plano.


Estamos assim nesse território tão característico da América, o “western”, um género tipicamente americano e convém lembrar que, na época em que este filme foi rodado, ainda o grupo de Butch Cassidy e Sundance Kid eram uns temíveis fora-da-lei, por outro lado a memória do bando de Jesse James ainda estava bem fresca de todos e como sabemos são inúmeros os filmes rodados sobre estas personagens lendárias “western”.


Ora com este “The Great Train Robbery” entramos decididamente no Oeste Americano, com os respectivos preparativos para o assalto por parte dos fora-da-lei, com o ataque à estação de comboio, imobilizando o telegrafista, impedindo desta forma ser conhecida a presença do bando no território por parte das autoridades. Na cidade encontramos os habitantes divertindo-se num baile, incluindo o xerife e os seus homens e depois somos levados até ao assalto ao comboio, com mortos e feridos e a consequente fuga desta quadrilha selvagem com o dinheiro do saque. Mas, como não podia deixar de ser, Edwin S. Porter convoca para a famosa perseguição o xerife e os seus homens que irão defrontar o perigoso bando, criando-se aqui as regras para milhares de duelos travados ao longo de mais de cem anos de cinema.


Um dos aspectos importantes nesta fase em que o cinema dava os primeiros passos era o facto de o mesmo actor desempenhar diversos papéis, como sucede aqui. Por outro lado o trabalho de Edwin S. Porter inclui a realização, fotografia, montagem e argumento, bem demonstrativo da preparação destes pioneiros do cinema que já tinham por detrás uma equipa de produção e, no caso dos Estúdios de Edison, essas equipas trabalhavam simultaneamente em diversas películas, mas será esta em concreto que se irá tornar célebre, não só por ter criado um novo género cinematográfico, mas também devido ao êxito alcançado aquando da sua apresentação junto do grande público.


Edwin S. Porter (o "S" significa Stanton) nasceu em Connellsville, Pensilvânia, em 1870 e desde muito cedo se inicia no cinema, primeiro como mecânico e depois como realizador, tendo sido ele o responsável pela descoberta desse génio chamado David Wark Griffith, recorde-se que Griffith trabalhou durante alguns anos como actor para os Estúdios de Edison, tendo mais tarde abraçado a arte da realização criando nos seus filmes a célebre linguagem cinematográfica. Já Mary Pickford, a conhecida “namorada da América” também foi dirigida por Porter em películas como “A Good Little Devil” ou “Hearts Adrift” mas, se olhamos para a filmografia de Edwin S. Porter, será sempre de destacar a sua versão cinematográfica dessa famosa obra literária intitulada “A Cabana do Pai Tomás”.

Edwin S. Porter

Se desejar ter uma pequena ideia de como eram os tempos do cinema nos seus primórdios recomendamos vivamente essa homenagem prestada pelo cineasta Peter Bogdanovich aos pioneiros do cinema na película “Nickleodeon” / “O Vendedor de Sonhos”, com interpretações inesquecíveis de Burt Reynolds e Ryan O’Neal, vivendo nesses conturbados tempos da guerra das patentes, em que se “deitava fogo ao armazém do vizinho” para este não poder divulgar os seus filmes.

Aqui deixamos a memória de “The Great Train Robbery” de Edwin S. Potter, que fez nascer um género, “O Western”, para delícia de milhões de espectadores já lá vai mais de um século.

Rui Luís Lima

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Auguste Lumière / Louis Lumière - "Chegada de um Comboio" / "L'arrivée d'un train en gare de la Ciotat"


Auguste Lumière / Louis Lumière
"Chegada de um Comboio" / "L'arrivée d'un train en gare de la Ciotat"
(França - 1896) - (1 min./ Mudo)

Auguste Lumière e o seu irmão Louis nasceram em Besançon separados por dois anos, o primeiro em 1862 e o segundo em 1864, mas ambos no mês de Outubro; no início os irmãos Lumière não acreditaram nas potencialidades comerciais do cinema, mas a verdade é que eles foram os fundadores de uma nova Arte, classificada como Sétima nesse dia 28 de Dezembro de 1895, através da exibição do filme “Chegada de um Comboio” / “L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat”, com a duração de cerca de um minuto, que irá fazer História tornando-se uma preciosidade da Sétima Arte ou, se preferirem, o momento fundador do Cinema!

Auguste Lumière & Louis Lumière

O operador colocou a câmara na estação de comboio de La Ciotat e iniciou a filmagem, ao longe vê-se um comboio a chegar e à medida que ele se aproxima da plataforma da estação, o pânico irá instalar-se nos espectadores que assistiam à projecção do filme, no interior de uma cave de um café, situado no Boulevard des Capucines (1), tendo de imediato muitos tentado sair da sala, cheios de medo dessa locomotiva que se aproximava perigosamente deles, poderemos dizer que o pânico se tinha instalado na sala. No entanto ninguém ficou esmagado pelo comboio, antes pelo contrário, assistimos à sua chegada à estação e depois de ele estar parado vemos os passageiros a sair do comboio. Naquele dia o Cinema acabara de nascer!


Louis Lumière revelou-se um magnífico cineasta através dos seus filmes de curta duração, captando a naturalidade e a passagem do tempo, como sucede com a “Saída dos Operários das Fábricas Lumière”, criando também o denominado grande plano, a profundidade de campo como sucede no seu primeiro filme visto pelo público ou momentos caricatos do quotidiano onde predomina o humor. Mas a “Chegada de um Comboio” será sempre considerado esse momento em que o cinema abriu os olhos para os espectadores de uma sala que o viam a dar os primeiros passos no grande écran, um momento único que tive a oportunidade de descobrir numa sala de cinema, quase um século depois de ele ter nascido.


(1) – O café, que se situava perto da Ópera Garnier, será destruído muitos anos depois por um incêndio.

Rui Luís Lima