domingo, 5 de maio de 2024

Steven Soderbergh - “Traffic – Ninguém Sai Ileso” / “Traffic”


Steven Soderbergh
“Traffic – Ninguém Sai Ileso” / “Traffic”
(EUA/Alemanha – 2000) – (147 min. / Cor)
Michael Douglas, Catherine Zeta-Jones, Benicio delTtoro, Tomas Milian,
Luis Guzman, Don Cheadle, Miguel Ferrer, Steven Bauer, Dennis Quaid, Jacob Vargas.

Quando William Friedkin realizou “French Connection” / “Os Incorruptíveis Contra a Droga”, ofereceu-nos um olhar perfeito sobre o tráfego de droga e os seus tentáculos. Com o passar dos anos o comércio e a difusão/variedade de estupefacientes existentes no mercado, atingiram níveis perfeitamente alarmantes e no virar de página de mais um século, o cineasta Steven Soderbergh decidiu oferecer-nos o seu olhar, sobre o circuito por onde navega o produto que vai enriquecendo a vida de alguns, à custa da destruição da vida de muitos.


“Traffic – Ninguém Sai Ileso” nasceu a partir da série televisiva “Traffik”, situando-se a acção do filme no continente americano, utilizando meios de produção enormes, só possíveis graças ao empenhamento do Estúdio, que viria coroado de sucesso o seu trabalho, após o êxito obtido junto do grande público, ao mesmo tempo que cativava a crítica cinematográfica, tendo ainda sido galardoado de forma eficaz numa memorável noite dos Oscars: Melhor Realização, Melhor Montagem, Melhor Argumento e Melhor Actor Secundário – Benicio Del Toro.


Javier Rodriguez (Benicio Del Toro) e Manolo Sanchez (Jacob Vargas) são dois polícias mexicanos que dedicam a sua vida a combater o tráfego de droga e logo no início da película iremos assistir ao sucesso de mais uma operação levada acabo por ambos, mas rapidamente iremos perceber, como são longos e misteriosos os tentáculos do polvo, ao conhecermos o general Arturo Salazar (Tomas Milian), responsável máximo pela luta anti-droga no México.


Do outro lado da fronteira, nos Estados Unidos da América, um juiz do Ohio é nomeado pela Casa Branca, como o novo responsável da luta contra o crime organizado, que obtém o seu financiamento no comércio de estupefacientes. O juiz Robert Wakefield (Michael Douglas), enquanto inicia o seu combate em território americano de forma feroz, utilizando todos os recursos da DEA ao seu dispor, irá descobrir com o passar do tempo, que a sua luta se irá tornar mais que pessoal, ao descobrir que a célebre cocaína e o famoso crack tomaram conta da vida da sua filha Caroline (Erika Christensen), sendo o “dealer” um colega de escola, visita habitual de sua casa.


Steven Soderbergh ao construir uma película em forma de mosaico, em que todas as peças se encaixam de forma perfeita, irá conduzir-nos até um respeitável e influente homem de negócios chamado Carlos Ayala (Steven Bauer), que controla o negócio em território americano, com mão de ferro e que acabará por ser preso, iniciando a sua mulher, Helena Ayala (Catherine Zeta-Jones), que até então desconhecia a actividade do marido, uma luta feroz e mortífera, para obter a sua libertação, não olhando a meios para atingir os fins pretendidos.


Por outro lado iremos acompanhar a luta dos homens da DEA com os traficantes, onde a denúncia é sempre paga com a morte, por mais bem guardados que estejam aqueles que decidem colaborar com as forças policiais, ao denunciarem os seus mentores.

Se Javier Rodriguez (Benicio Del Toro) consegue obter esse campo de futebol, para as crianças jogarem à bola, mantendo-as assim afastadas deste flagelo, já o juiz Robert Wakefield (Michael Douglas) irá perceber como a sua luta é demasiado dramática e pessoal, para continuar a desempenhar as funções para que fora indigitado.


“Traffic” de Steven Soderbergh possui ainda a curiosidade de ser o primeiro filme em que o casal Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones participam no mesmo filme, embora nunca haja nenhuma sequência em que os dois estejam presentes em simultâneo, nunca se tendo cruzado nos bastidores, como foi confessado pelo actor numa entrevista.


Contando com um lote enorme de actores e utilizando meios até então nunca vistos num filme do género, o cineasta Steven Soderbergh, consegue oferecer-nos uma imagem contundente deste drama, de forma acutilante e não moralista, sendo ele próprio o responsável pela fotografia, utilizando o pseudónimo de Peter Andrews.

A fragmentação da montagem do filme e a utilização da luz e da cor de forma realista, transformam muitas vezes esta obra de ficção, quase num documentário, filmado à flor da pele, oferecendo ao espectador uma narrativa onde são expostos os tentáculos do polvo que controla o comércio dos estupefacientes, expansão essa que atinge todos os lugares da sociedade, desde o mais baixo, até chegar ao topo da pirâmide, ao mesmo tempo que se infiltra e alicia aqueles que se encontram destinados a combatê-lo.


“Traffic” surge assim, não como uma denúncia, mas sim como um observador atento, que coloca questões pertinentes, aos responsáveis pela luta contra o tráfego de droga, ao mesmo tempo que nos oferece uma magistral lição de cinema, sendo impossível ficarmos indiferentes perante a acutilância deste magnifica película e a genialidade do seu autor: o cineasta Steven Soderbergh.

Rui Luís Lima

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