segunda-feira, 22 de abril de 2024

Eric Rohmer - “Conto de Inverno” / “Conte d’Hiver”


Eric Rohmer
“Conto de Inverno” / “Conte d’Hiver”
(França – 1992) – (114 min. / Cor)
Charlotte Very, Frédéric Van Den Driessche, Michel Voletti, Hervé Furic.

“Conto de Inverno” / “Conte d’Hiver” foi o segundo filme da série “Contos das Quatro Estações”, a ser rodado por Eric Rohmer e possivelmente o menos conhecido de todos, o que se revela uma perfeita injustiça, já que o cineasta francês nos oferece, mais uma vez, uma história onde o naturalismo e a memória de Shakespeare andam de mãos dadas. Nas primeiras sequências da película, rodadas na Bretanha no verão, somos surpreendidos pela forma como Eric Rohmer nos oferece a paixão entre dois seres, revelando a beleza da nudez dos corpos, sem qualquer artifício, ao mesmo tempo que sentimos como o amor pode ser perfeito, mas um pequeno engano irá alterar a vida destes dois jovens durante um longo período de tempo.


Félice (Charlotte Very) ao conhecer Charles (Frédéric van den Driessche) um jovem cozinheiro, apaixona-se perdidamente por ele, mas como ele vai partir para os Estados Unidos da América para fazer um estágio, ela decide deixar-lhe a sua morada, para quando ele regressar, iniciarem uma nova vida, mas ela ao dar-lhe a morada, engana-se na localidade indicando a cidade de Courbevoie em vez de Levallois e quando se apercebe do erro é demasiado tarde.


Cinco anos depois vamos encontrá-la com a sua filha Elise, fruto dessa paixão de Verão, navegando a vida amorosa de Félice entre dois homens: Loic (Hervé Furic) um jovem intelectual que trabalha numa Biblioteca e Maxence (Michel Voletti), bem mais velho do que ela, dono do cabeleireiro, onde Félice trabalha.


Em meados de Dezembro, em plena época Natalícia, Maxence decide separar-se, finalmente, da esposa e abre um novo cabeleireiro, convidando Félice para ir viver com ele. A jovem deixa Loic, cuja relação nunca foi das melhores e segue Maxence, embora a memória de Charles permaneça bem viva no seu coração. E no dia em que entra numa igreja por insistência da pequena filha, percebe que a fé e a esperança de reencontrar Charles é mais forte que tudo e regressa a Paris, acabando por encontrar Charles, que a reconhece de imediato no autocarro, mas como ele vai acompanhado por uma mulher (Marie Riviére, uma das actrizes mais presentes na filmografia de Eric Rohmer), pensa que ele se casou, mas Charles que nunca a deixou de amar, decide segui-la e termina por lhe contar que se trata apenas de uma amiga e assim os dois regressam cinco anos depois aos braços um do outro para reviverem essa chama da paixão, que nunca se extinguira, permanecendo esta como essa fé que nunca se perde.


Eric Rohmer em “Conto de Inverno” / “Conte d’Hiver” narra-nos uma história de uma simplicidade absoluta, onde a fé e a felicidade andam de mãos dadas, lutando contra os infortúnios da existência e será esta mesma simplicidade ou moralidade se preferirem, que sempre foram apanágio da obra do cineasta, que irão sorrir para esses pequenos enganos, que tantas vezes alteram a vida e o destino do ser humano.


“Conto de Inverno” merece bem ser revalorizado, porque ele possui no seu interior esse segmento de ligação, a busca da felicidade, com os restantes três filmes que compõem a série “Contos das Quatro Estações”.

Rui Luís Lima

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