segunda-feira, 22 de abril de 2024

Clint Eastwood - “Imperdoável” / “Unforgiven”


Clint Eastwood
“Imperdoável” / “Unforgiven”
(EUA – 1992) – (131 min. / Cor)
Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris.

Foi através dos “westerns” de Sergio Leone e Don Siegel que Clint Eastwood manteve bem vivo o género, tendo depois aberto o seu próprio caminho, compondo diversas personagens, geralmente o cow-boy solitário que termina por ir em defesa dos oprimidos, fazendo a inevitável justiça pelas suas próprias mãos, numa caminhada que o conduziria até “Imperdoável” / “Unforgiven”, cujo guião andou durante largos anos pelos corredores dos Estúdios, sem ninguém se interessar por ele. Mas a história daquele velho pistoleiro, tornado agricultor e com duas filhas para criar, que regressa à actividade porque uma prostituta foi esfaqueada, seduziu de imediato o actor/cineasta, que assim nos irá oferecer uma película crepuscular sobre o velho Oeste.


Numa dessas cidades onde a população só se quer manter viva perante a lei do brutal Xerife Little Bill Daggett (Gene Hackman num desempenho extraordinário, que lhe irá dar o Oscar para o Melhor Actor Secundário). Um dia dois cow-boys decidem esfaquear no rosto uma das raparigas que trabalha no saloon e quando elas pedem justiça a Little Bill este simplesmente nada faz, considerando que são riscos da própria profissão e elas decidem oferecer um prémio a quem faça a verdadeira justiça.


Bill Munny (Clint Eastwood) que na sua quinta conhece bem as agruras da terra, perante a insistência de Kid (Jaimz Woolvett) decide ir até à cidade para conhecer o ambiente e será também com o seu antigo companheiro Ned Logan (Morgan Freeman), que ele irá delinear o plano para enfrentar o temível xerife Little Bill e fazer a tão desejada justiça ou a temível vingança das raparigas, se preferirem. No entanto ele deixara a profissão de pistoleiro há longos anos e assim iremos acompanhar o regresso doloroso do pistoleiro Bill Munny ao território das armas, onde não há contemplações nem heróis, mas sim simples justiceiros.


A forma como o argumento de “Imperdoável” / “Unforgiven” nos apresenta o pistoleiro retirado Bill Munny, faz-nos recordar um pouco a personagem de Tom Logan criada por Jack Nicholson em “Duelo no Missouri” / “The Missouri Breaks” de Arthur Penn, no entanto a película dirigida por Eastwood possui uma envolvência e uma ferocidade que terminam por surpreender o espectador, ao mesmo tempo que nos oferece a imagem desse Oeste selvagem que tão bem retratou Michael Cimino, na sua obra-prima “As Portas do Céu” / “Heaven’s Gate”. Porém Clint Eastwood consegue introduzir ao longo da película, de forma genial, o crepuscular do género, na forma como filma esse território, sem heróis, ao mesmo tempo que nos revela personagens atípicas, como esse pistoleiro tagarela e fanfarrão, encarnado por Richard Harris, conhecido por English Bob, que anda sempre acompanhado por esse cobarde “contador de histórias”, chamado Beauchamp (Saul Rubinek, numa boa prestação), cuja função é escrever os seus feitos.


“Imperdoável” / “Unforgiven”, que foi dedicado por Clint Eastwood aos seus Mestres Sergio Leone e Don Siegel, terminou por oferecer a Eastwood a tão desejada consagração pelos seus pares, quando surgiu como o grande triunfador da noite dos Oscars, tendo recebido os Oscars da Academia para Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Montagem e Melhor Actor Secundário, numa noite memorável, que transformou e revigorou, da forma que todos conhecemos, a carreira de Clint Eastwood, considerado hoje em dia, como o último dos cineastas clássicos.

Rui Luís Lima

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