segunda-feira, 22 de abril de 2024

Francis Ford Coppola - “Dracula” / “Bram Stoker’s Dracula”


Francis Ford Coppola
“Dracula” / “Bram Stoker’s Dracula”
(EUA – 1992) – (128 min. / Cor)
Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves.

Quando o motorista que conduzia a viatura onde seguia o cineasta G. W. Murnau se despistou, o Cinema perdeu um dos seus maiores génios e também o autor dessa obra única intitulada “Nosferatu”. Depois a personagem criada por Bram Stoker na literatura seria adaptada ao cinema por um outro génio desconhecido de muitos, de seu nome Tod Browning.


Aquando da retrospectiva do cineasta na Cinemateca em que foram descobertas as preciosidades esquecidas de Tod Browning, autor do célebre “Freaks”, foi-nos também oferecida a descoberta de Lon Chaney o actor dos mil rostos. O “Drácula” de Tod Browning ficou também famoso para a história do cinema pelo seu protagonista e é com profunda nostalgia que recordamos o Conde com a sua capa, na figura de Bela Lugosi e também aquele microfone que inadvertidamente surge no écran (a célebre “girafa”) e que rapidamente sai do enquadramento, logo no início da película.


Anos mais tarde a “Hammer” britânica tomou bem conta do mito e Christopher Lee foi um verdadeiro Gentleman ao vestir a pele do famoso Conde Drácula sempre perseguido por Van Helsing (o célebre Peter Cushing). O mito do Conde da Transilvânia tinha chegado ao grande écran para ficar ao longo de diversas gerações, navegando de continente para continente, nesse barco cinéfilo do nosso contentamento, ora era Roman Polanski que decidia jogar a comédia com o mito em “Por Favor Não Me Mordam o Pescoço” / “Dance of the Vampires”, enquanto por outro lado Werner Herzog, então no seu apogeu, retomava a herança de Murnau e realizava um novo “Nosferatu” com um Klaus Kinski inesquecível, para já não falarmos nessa versão em 3D, que em Portugal passou sem os famoso óculos, assinada pela dupla Andy Wahrol/Paul Morrissey, intitulada “Sangue Virgem para Drácula” / “Blood For Dracula”, com um Udo Kier desesperado em busca da sua virgem, aqui decididamente o humor jogava com o mito com um sabor a “underground”.


Perante uma herança tão repleta de referências e estilos foi com espanto que muitos ficaram surpreendidos quando no início dos anos noventa Francis Ford Coppola anunciou uma nova versão do mito.


Com “Bram Stoker’s Dracula” deFrancis Ford Coppola não estamos perante mais uma versão do famoso romance de Bram Stoker, mas sim com uma obra fiel à literatura gótica, já que Francis optou por um olhar profundamente barroco, contando com um soberbo guarda-roupa da responsabilidade de Eiko Ishioka e para aqueles que desconhecem, a segunda equipa de filmagens foi dirigida por Roman Coppola o futuro cineasta de “GQ”. E desta feita a Winona Ryder até aguentou a pressão das filmagens (o que não sucedera com o derradeiro filme da série “O Padrinho”), talvez devido ao sentido tranquilo de Keanu Reeves, perante a turbulência controlada de Gary Oldman, num Dracula cheio de maneirismos (no bom sentido da palavra), já que tenta também retomar o mito do gentleman, perante a inocência da sua jovem presa. Já o Van Helsing criado por Anthony Hopkins, termina por fazer a diferença, de muitos surgidos anos depois, na sua loucura de caçador do Príncipe das Trevas, já que a sua personagem é de tal intensidade, que nos obriga quase a estar do lado da noite, perante o romantismo barroco oriundo desse castelo maldito perdido na obscuridade da Transilvânia.

Rui Luís Lima

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