sexta-feira, 26 de abril de 2024

Emir Kusturica - “Underground – Era Uma Vez Um País” / “Underground”


Emir Kusturica
“Underground – Era Uma Vez Um País” / “Underground”
(França/Jugoslávia/Alemanha/Hungria – 1995) – (192 min. / Cor)
Mimi Manojlovic, Mirjana Jokovic, Lazar Distovoki, Salvko Stimac, Ernst Stotzner.

Durante largos anos o cinema produzido na ex-Jugoslávia, nesses tempos em que imperava o Marechal Tito, a denominada guerra de libertação era o tema mais comum nos filmes distribuídos no Ocidente, mas quando surgiu “Lembras-te de Dolly Bell?” / “Specas li se Dolly Bell?”, nascia pela mão de Emir Kusturica, um cinema com a temática centrada no quotidiano, e com a feitura em 1985 de “O Pai foi em Viagem de Negócios” / “Otac na sluzbenon putu”, muitos perceberam que tinha nascido um cineasta. Já em “O Tempo dos Ciganos” / “Dom za vesanje”, este bósnio nos revelava um universo até então ausente do cinema, onde a magia e as tradições andavam de mãos dadas e como não podia deixar de ser Emir Kusturica acabaria por fazer o seu filme americano, “Arizona” / “Arizona Dream”, com um regressado Jerry Lewis no protagonista, ao lado de Johnny Depp, Vincent Gallo e Faye Dunaway.


Quando nos écrans de todo mundo se estreou “Underground – Era Uma Vez um País” de imediato foram inúmeras as leituras políticas feitas da película, chegando alguns a acusar o filme de ser pró-sérvio, numa época em que a ex-Jugoslavia entrava em implosão dando origem a uma luta fratricida entre as diversas etnias, que mais tarde irá dar origem as nascimento de diversas nações, como muitos estão recordados.


No entanto o filme de Emir Kusturica, profundamente político, tocava com o dedo na ferida, ao contar-nos uma história verdadeiramente surrealista e ideológica, em que um grupo de homens, contrabandistas, que lutavam contra a opressão nazi, durante a Segunda Grande Guerra, irão permanecer após o fim do conflito a viverem e a fabricar munições, escondidos em subterrâneos, julgando que a guerra continua e sempre que voltavam à superfície era de imediato criado o cenário necessário para eles pensarem que o conflito permanecia, numa guerra infinita


Esta história de um homem que engana o seu melhor amigo, roubando-lhe a namorada e de certa forma a vida, poderá ser objecto das mais diversas leituras, mas Emir Kusturica em “Underground –Era Uma Vez um País”, filme vencedor da Palma e Ouro no Festival de Cannes, oferece-nos um retrato corrosivo do país em que nasceu. E ao revermos “Underground – Era Uma Vez um País” é inevitável lermos nas entrelinhas ou vermos nos fotogramas, memórias de um passado, que permanece incómodo para muita boa gente.

Rui Luís Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário