sábado, 27 de abril de 2024

John Dahl - “A Última Sedução” / “The Last Seduction”


John Dahl
“A Última Sedução” / “The Last Seduction”
(EUA – 1994) – (110 min. / Cor)
Linda Fiorentino, Peter Berg, Bill Pullman, J. T. Walsh.

John Dahl deu nas vistas quando realizou “Delito em Red Rock West” / “Red Rock West”, a história de um homem que apenas pretende um emprego numa "little town" e se vê envolvido numa trama de enganos, quando é confundido com um assassino contratado e que tudo fará para o evitar, incluindo denunciando a situação à polícia local, para descobrir que foi o próprio xerife (J. T. Walsh), que contratou o assassino (Dennis Hopper), para matar a sua própria mulher.


A razão desta sinopse prende-se pelo facto de John Dahl gostar de ambientar os seus filmes nas “little town”, oferecendo-nos de forma perfeita o microcosmos de uma América profunda, por vezes muito desconhecida de todos nós. E será isso mesmo que fará no seu filme seguinte intitulado “A Última Sedução” / “The Last Seduction”, onde nos oferece o retrato de uma “Femme Fatale”, que nos irá cativar ao longo da película. A escolhida para a protagonista foi Linda Fiorentino que, como devem estar recordados, descobrimos todos nesse filme nocturno de Martin Scorsese “After Hours”, então de cabelo curtinho na figura da escultora. Mas aqui ela é uma mulher impiedosa, que gosta de manipular o marido (Bill Pullman), nunca olhando a meios para atingir os seus fins, porque ela simplesmente adora dinheiro.


Logo no início do filme, ao vermos a forma como ela controla os vendedores que se encontram debaixo da sua alçada percebemos como ela é vil e feroz, arrastando uma perigosa sensualidade no interior do seu corpo. E após o marido ter feito um negócio com uns "dealers", que lhe rende uma quantia de 700.000 dollars, ela não resiste a fugir com o dinheiro.


Deixa assim em fuga a grande cidade e vai estrada fora, terminando por parar numa povoação longe de tudo e de todos e, mal entra no bar da pequena povoação, de imediato desperta as atenções dos presentes, mas será o inocente Mike Swale (Peter Berg, cuja carreira se estendeu depois à realização e argumento), a cair nas suas “boas graças”, que irá ser manipulado a seu prazer, porque de certa forma irá tornar-se seu escravo sexual, depois de ela decidir permanecer na pequena povoação, arranjando de imediato emprego (na empresa onde Mike trabalha), para assim começar a delinear o seu plano perfeito.
Clay Gregory, o marido (Bill Pullman), que é vítima da perseguição de um agiota, decide contratar um detective para a encontrar e reaver o dinheiro mas ela, a mulher fatal, irá saber lidar com a situação quando é localizada. E aqui John Dahl oferece-nos um retrato perfeito da América profunda. Lentamente Mike vai ficando refém nas mãos de Bridget Gregory (Linda Fiorentino), desconhecendo a existência do dinheiro ilícito. Ela decide então saber mais sobre o passado do seu amante divorciado, que poucos dias depois de se casar pedira o divórcio e regressara à povoação que o vira crescer.


Na verdade Mike possui um enorme “esqueleto no armário”, sexualmente falando e quando Bridget lhe conta o que sabe do seu passado, ele simplesmente fica aterrorizado e ela então decide fazer chantagem com ele, “convidando-o” a liquidar o marido.


Swale (Peter Berg) sabe que a divulgação do seu segredo lhe irá arruinar a vida e decidi aceitar a proposta mas, ao chegar a casa de Clay Gregory, tudo lhe sai mal e termina a ser confrontado pelo marido. No entanto Bridget Gregory, a perfeita “Femme Fatale”, tem um plano alternativo e decide agir por sua conta e risco.


Linda Fiorentino possui aqui a sua melhor interpretação de sempre e com a sua voz rouca e sensual e sem complexos, constrói uma personagem que nos deixa perfeitamente, atónitos. Por outro lado John Dahl cria um “suspense” que nos agarra até ao último minuto do filme, porque estamos sempre a ser surpreendidos pelo desenrolar do argumento. Aliás por sinal muito bem carpinteirado, dando sempre uma atenção muito especial aos pormenores, que retratam a localidade onde se passa parte da acção, basta ver a forma como ele nos mostra o racismo subterrâneo que vive nos habitantes daquela cidade, ao verem a cor do detective que segue Bridget.


“A Última Sedução” surge assim como uma obra plena de erotismo e suspense, possuidora de um olhar perfeito sobre a América profunda e onde a direcção de actores é na verdade de primeira água, sendo sempre de destacar o desempenho de Linda Fiorentino, porque na verdade nunca poderemos imaginar este filme com outra actriz.

Rui Luís Lima

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