quarta-feira, 1 de maio de 2024

Wong Kar-Wai - “Felizes Juntos” / “Happy Together”


Wong Kar-Wai
“Felizes Juntos” / “Happy Together”
(Hong-Kong – 1997) (96 min. / Cor - P/B)
Leslie Cheung, Tony Leung, Chen Chang.

Quando falamos hoje de Wong Kar-Wai, o nome do cineasta é conhecido para qualquer cinéfilo, no entanto quando surgiu em Portugal “Chungking Express” / “Chongqing Senlin” em 1994, no cinema King, ele foi uma das mais felizes descobertas cinematográficas, que deixou todos boquiabertos. Mas se muito se devia à mestria de Kar-Wai, que numa longa-metragem contava duas histórias e lançava para a ribalta o nome de Tony Leung, nunca nos poderemos esquecer da genialidade do seu director de fotografia, o australiano Christopher Doyle, que se encontra para ele, como Sven Nikvist está para Ingmar Bergman.


Wong Kar-Wai nasceu em Xangai, mas emigrou cedo para Hong-Kong (tinha apenas cinco anos) e só aos 13 anos conseguiu exprimir-se no dialecto local. A sua paixão pelo cinema iniciou-se cedo, embora nunca tenha frequentado nenhuma escola de cinema, como muitos cineastas da “nouvelle vague”, frequentou um curso de escrita criativa para argumentos, iniciando-se pouco depois na Arte do Cinema. O seu baptismo de fogo deu-se em 1988 com “As Tears Go By” / “Wong gok ka moon”, surgindo nessa película uma das maiores referências do cinema asiático, a bela Maggie Cheung, também musa do realizador francês Olivier Assayas.


Depois foram títulos como “Days of Being Wild” / “ A Fei jing juen” (1991), “Chungking Express” (1994), “Ashes of Time” / “Dung che sai duk” (1994), “Anjos Caídos” / “ Duo luo tian shi” (1995) onde retoma o esquema das histórias cruzadas no mesmo filme, até que em 1997 surge a consagração internacional com “Felizes Juntos” / “Happy Together” obtendo o prémio para a melhor realização do Festival de Cannes, do qual muitos anos mais tarde (2006) viria a ser Presidente do Júri.


“Felizes Juntos” já editado em dvd, relata-nos a história de um amor, entre duas personagens do sexo masculino, muito longe do seu país de origem, a acção passa-se na Argentina e inevitavelmente a música é também ela personagem. Como sempre o tema é tratado de uma forma sofisticada, mas por vezes nua nas suas relações, mantendo, mesmo assim, um olhar distanciado e sereno, a caminho da beleza da perdição, repare-se na sequência das cataratas, assim como a solidão nocturna invasora do olhar de um dos protagonistas no seu regresso a casa.


Decididamente “Happy Together” é um filme charneira na obra do cineasta, merecendo ser descoberto e colocado ao lado de obras como “In The Mood For Love”, contaminado pelo melodrama e pela música de Nat King Cole, que teve a sua “continuação” em “2046”. Wong Kar-Wai, tal como Ang Lee, é um dos cineastas mais fascinantes do cinema asiático, se assim lhe poderemos chamar, já que ele é um cineasta do mundo e redescobrir o seu cinema é uma aventura esplendorosa.

Rui Luís Lima

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