quinta-feira, 9 de maio de 2024

Gregory Hoblit - “Em Defesa da Honra” / “Hart’s War”


Gregory Hoblit
“Em Defesa da Honra” / “Hart’s War”
(EUA – 2002) – (125 min. / Cor)
Bruce Willis, Collin Farrell, Terrence Howard, Cole Hauser, Marcel Tures, Linus Roche.

Gregory Hoblit pertence a essa geração de cineastas que fez a tarimba toda na televisão, estreando-se no cinema só muitos anos depois, em 1996, com essa obra memorável intitulada “A Raiz do Medo” / “Primal Fear”, sobre a qual já aqui escrevemos, onde nos foi dado conhecer a genialidade desse actor chamado Edward Norton. “Hart’s War” / “Em Defesa da Honra” surge como o seu quarto capítulo na realização cinematográfica, abordando o filme de guerra, situando a acção no período da Segunda Grande Guerra.


O Tenente Thomas Hart (Colin Farrell) é filho de um Senador e por isso mesmo encontra-se afastado do teatro de operações, mas nesse dia fatal em que conduz um oficial no seu jeep até à frente de batalha, irá ser vítima de uma emboscada, terminando prisioneiro dos alemães. Iremos assim assistir ao seu interrogatório e ao consequente envio para um campo de concentração comandado pelo Coronel Werner Visser (Marcel Iures, actor romeno que merece que lhe fixemos o nome).


Ao chegar a esse inferno irá ser encaminhado para a camarata dos oficiais, vendo-se de imediato sujeito a um interrogatório pelo Coronel McNamara (Bruce Willis), que percebe que ele lhe mente sobre o que se passou durante o interrogatório, enviando-o para a camarata dos soldados, ao contrário do estipulado pelas regras.


O cineasta consegue oferecer-nos de forma perfeita o ambiente vivido no campo de concentração, ao mesmo tempo que lança dúvidas sobre o carácter do coronel McNamara, quando este envia dois oficiais negros, pilotos de um bombardeiro, para o mesmo barracão onde se encontre Hart, revelando-se de imediato, através do Sargento Bedford (Cole Hauser), o racismo existente no interior do exército americano, levando Bedford a engendrar a morte de um dos pilotos negros, perante a apatia do coronel americano que vê a guerra passar ao lado, em virtude de se encontrar prisioneiro, ao mesmo tempo que Hart se revolta, percebendo como tudo foi encenado.


Quando o Sargento Bedford surge assassinado, as culpas mais uma vez recaem sobre o outro piloto negro (Terrence Howard), que clama a sua inocência, mas como o coronel alemão até é um homem que frequentou Yale antes da Segunda Grande Guerra, aceita com curiosidade que seja feito um tribunal de acordo com as regras militares, entre os prisioneiros, para julgarem o Tenente Lincoln Scott, que irá ter como advogado de defesa o Tenente Thomas Hart, ao mesmo tempo que o papel de Juiz é atribuído ao Coronel McNamara, que não esconde de ninguém o seu desejo em condenar à morte o piloto.


Gregory Hoblit constrói assim um clima verdadeiramente tenso, em que as raízes do racismo na sociedade norte-americana surgem ao de cima, levando Hart a defender com todos os meios ao seu dispor, incluindo a ajuda que lhe dá o coronel alemão, para salvar o piloto da morte e quando menos se espera todos iremos perceber as razões de McNamara, para prolongar aquele julgamento.


Ao vermos “Em Defesa da Honra” / “Hart’s War” é inevitável recordar-se “A Grande Evasão” / “The Great Escape” de John Sturges e “Fuga para a Vitória” / “Victory” de John Huston ou essa obra-prima de Billy Wilder intitulada “Inferno na Terra” / “Stalag 17”. No entanto a película de Gregory Hoblit pretende antes de mais justificar as razões de McNamara, ao mesmo tempo que se afasta lentamente da questão racial, para no final nos oferecer esse gesto em busca da honra, levado a cabo pelos três intervenientes, ao se apresentarem como culpados da morte do sargento, para salvarem a vida uns dos outros e, como não podia deixar de ser, será Bruce Willis a vestir a pele do herói que irá sacrificar a vida em defesa da honra, ao mesmo tempo que cumpre o seu dever primordial como militar ou seja combater o inimigo por todos os meios ao seu dispor.


“Hart’s War” possui todos os ingredientes para ser um excelente filme de guerra, mas o “star-system” e o “politicamente correcto” terminaram por ditar as suas regras, ao contrário do que sucedia em “A Raiz do Medo” / “Primal Fear”.

Rui Luís Lima

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