quinta-feira, 9 de maio de 2024

Roman Polanski - "O Pianista" / "The Pianist"


Roman Polanski
"O Pianista" / "The Pianist"
(Grã-Bretanha/França/Alemanha/Polónia – 2002) - (150 min. / Cor)
Adrien Brody, Emilia Fox, Machal Zebrowski,
Ed Stoppard, Maureen Lopman, Frank Finlay.

Quem leu o livro “Roman por Polanski”, a célebre auto-biografia do cineasta, irá descobrir em “O Pianista” / “The Pianist” uma situação vivida pelo próprio realizador, quando ainda criança fugia por um pequeno buraco escavado, no infelizmente célebre Ghetto de Varsóvia, por onde escapava diariamente para procurar comida, até chegar o momento em que um soldado alemão o agarrou pelos pés, a luta foi feroz, mas o futuro realizador sairia vencedor, fugindo para o interior do Ghetto.


“O Pianista” / “The Pianist” narra-nos de uma maneira soberba a luta pela sobrevivência do conhecido pianista polaco Wladyslaw Szpilman, célebre no seu país durante os anos trinta, oferecendo-nos Adrien Brody uma interpretação espantosamente contida e de um realismo que nos deixa a todos rendidos à sua interpretação e à magnifíca direcção de actores de Roman Polanski, contando com uma fotografia profundamente realista de Pawel Edelman, que nos mergulha nos dias que antecedem a invasão da Polónia, até à ocupação da cidade de Varsóvia pelas tropas alemãs.


Lentamente, Roman Polanski vai-nos oferecer a transfiguração de uma sociedade de forma lúcida e sem artifícios: a divisão da cidade e a construção do Ghetto, com a separação dos judeus a ser feita pelos próprios polacos, onde não se oculta um certo anti-semitismo, já que as ordens do comando alemão são mesmo para serem cumpridas, sendo a partida dos judeus no comboio rumo aos campos de extermínio um dos momentos mais sofredores da película.


A luta pela sobrevivência de Wladyslaw (Adrien Brody) é memorável, sempre à beira do abismo, sentindo o espectador o sofrimento porque ele passou e mesmo quando estamos perante os preparativos da revolta no Ghetto, percebemos bem como ela está votada ao fracasso mas, como sabemos, muitos preferiram morrer de pé a lutar, do que esperar pela morte que lhes estava reservada.


E quando o esfomeado e gelado Wladyslaw se encontra à beira da morte perante o oficial germânico que o encontra na casa abandonada e em ruínas onde se tinha refugiado, será o piano que ali se encontra que o irá salvar.


O oficial oferece-lhe comida depois de o escutar a tocar piano e quando parte com as tropas que comanda, devido ao avanço soviético, deixa-lhe o seu sobretudo para ele não morrer de frio e será essa mesma peça de vestuário que quase o conduz às portas da morte, quando é detectado pelas tropas russas que, de imediato, o confundem com um oficial alemão, perante o seu desespero.


“The Pianist” / “O Pianista” surge assim, não como um filme sobre o holocausto, mas sim como o testemunho de um cineasta que conheceu demasiado bem a realidade retratada, oferecendo-nos um relato da luta pela sobrevivência de um homem que viveu no fio da navalha, fugindo da morte atroz que se escondia em cada esquina, sendo impossível ficarmos indiferentes perante a genialidade desta obra-prima assinada por Roman Polanski.


A película obteve, entre outros prémios, a Palma de Ouro do Festival de Cannes e os Oscars para Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor, um inesquecível Adrien Brody.

Rui Luís Lima

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