domingo, 28 de abril de 2024

John McTiernan - "Die Hard 3 - A Vingança" / "Die Hard With A Vengeance"


John McTiernan
"Die Hard 3 - A Vingança" / "Die Hard With A Vengeance"
(EUA – 1995) – (131 min. / Cor)
Bruce Willis, Jeremy irons, Samuel L. Jackson.

Quando John McTiernan realizou o seu primeiro “Die Hard” / “Assalto ao Arranha-céus”, nunca pensou estar a criar uma personagem que se iria tornar famosa, o policia John McClane e certamente Bruce Willis, que lhe deu corpo, também não pensaria que esse herói contemporâneo iria ter o seu rosto durante muitos anos, mas assim sucedeu como todos sabemos.


Ao olhamos o panorama cinematográfico dos heróis, esquecendo por breves momentos todos aqueles oriundos da banda desenhada, apenas encontramos no Agente de Sua Majestade 007, “My name is Bond, James Bond”, um rival a viver no mesmo território de John McClane e o último Bond, era a prova provada, perdoem a redundância, de que ele estava para durar e de muito boa saúde.

E se James Bond ao longo dos anos tem mudado de rosto, Sean Connery, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig, já o tenente John McClane tem tido sempre o mesmo rosto, Bruce Willis.


Mas recordemos um pouco a carreira de John McTiernan, um grande cineasta que se tornou um verdadeiro autor no panorama do cinema norte-americano vivendo em perfeita coabitação com os Estúdios. Se por um lado poucos se recordam do seu filme de estreia “Nomads” / “Nómadas” com o Pierce Brosnan no protagonista, já “O Predador” / “Predator” deixou-nos a todos agarrados à cadeira, nesse duelo travado entre Arnold Schwarzenegger e o caçador que veio do espaço. No ano seguinte nasce essa personagem inesquecível chamada John McClane em “Assalto ao Arranha-Céus” / “Die Hard”, seguindo-se esse espantoso filme baseado no best-seller de Tom Clancy “Caça ao Outubro-Vermelho” / “The Hunt for Red October”. E quando todos pensávamos que estávamos perante um cineasta de filmes de acção, John McTiernan troca-nos as voltas e oferece-nos o fabuloso “Medicine Man”, rodado em plena Amazónia com Sean Connery e Lorraine Bracco nos protagonistas, tendo havido um desentendimento tão grande entre a actriz e o cineasta, que se deixaram de falar durante a rodagem, tendo sido Sean Connery a dirigi-la, acidentes de percurso, quem não os tem?


Desta forma, John McTiernan revelou-se um cineasta e no seu filme seguinte uma obra-prima de invenção e de homenagem ao cinema transformou-se num verdadeiro autor, referimos-nos a “O Último Grande Herói” / “The Last Action Hero”, uma daquelas películas onde se respira cinema em todos os fotogramas tendo sido convocada a memória da Sétima Arte como protagonista, infelizmente o filme foi um insucesso comercial, tendo acontecido o mesmo ao seu empreendimento nas Cruzadas, com “13th Warrior”, partindo então para esse jogo de sedução e mistério chamado “O Caso Thomas Crown” / “The Thomas Crown Affair” onde nos cruzamos com o misterioso e cavalheiro Thomas Crown (Pierce Brosnan). E se esta película já se tratava de um “remake” (o anterior ladrão de arte fora interpretado pelo saudoso Steve McQueen), o filme seguinte seria também outro “remake”, mais precisamente “Rollerball”, o original fora assinado pelo Norman Jewinson e assim chegamos a esse thriller fabuloso passado na Instituição Militar intitulado “Básico” / “Basic” com um John Travolta no seu melhor e o regresso de Samuel L. Jackson, um dos protagonistas de “Die Hard 3”.


Em “Assalto ao Arranha-Céus” / “Die Hard”, o agente John McClane irá ser apanhado desprevenido na casa de banho a aliviar os pés dos seus apertados sapatos (técnica aprendida no avião que o leva a L.A., para se ambientar a um novo local) e por esta razão irá andar descalço durante largo tempo ao lutar contra o bando chefiado pelo terrorista Hans Gruber (o fabuloso Alan Rickman), um alemão com um passado bem visível nos homens que o acompanham, demonstrando ao mesmo tempo uma elegância fria na forma de actuar, o mesmo já não acontece em “Assalto ao Aeroporto” / “Die Hard 2” nos vilões de serviço, o coronel Stuart (William Sadler) e o General Ramon Esperanza (Franco Nero), e convém referir que as razões não estão nos intérpretes, longe disso, mas sim no argumento, ou seja nos personagens criados. Mas ao chegarmos a “Die Hard, A Vingança” / “Die Hard With a Vengeance” basta escutarmos a voz que diz “Simon says” para de imediato sabermos que por detrás desta voz inconfundível se encontra não só um dos nossos actores favoritos, Jeremy Irons, mas também um vilão sábio e elegante, portador de um carisma pronto para derrotar o herói de serviço e nunca como aqui, nós simpatizámos tanto com o “mau da fita”.


John McTiernan, ao regressar ao comando da série “Die Hard”, elimina a personagem Holly McClane (Bonnie Bedelia), que nunca deu conta do recado, estar ela lá ou outra qualquer era perfeitamente indiferente e faz a ponte com a primeira película ao introduzir a figura carismática do vilão e o seu jogo de “Simon says” e como não podia deixar de ser o seu nome não é Simon, mas sim Peter Gruber (Jeremy Irons), o irmão do líder do assalto ao arranha-céus, a célebre torre Nakatomi.

Porém, o mais importante é a forma serena como John McTiernan nos oferece as imagens iniciais do filme e de súbito vimos o caos a apoderar-se delas com uma série de explosões profundamente destruidoras e quando a polícia começa a tomar conta das investigações, ficamos a saber que o terrorista só aceita como interlocutor o tenente John McClane (Bruce Willis) e então percebemos que os dados da película estão lançados.


Vamos assim encontrar um John McClane que vive dependente do álcool e está suspenso da polícia, para além de ter sido abandonado pela mulher. Poderemos dizer que é muito para um homem só, mas estamos enganados, porque quando “Simon says” a McClane que ele tem que ir até à esquina da rua 138 com a Amsterdam em pleno coração do Harlem com um cartaz racista preso ao corpo a dizer como odeia os negros, vamos entrar num jogo bem montado do gato e do rato e iremos conhecer Zeus Carver (Samuel L. Jackson) que o irá salvar de uma morte certa, para a partir desse momento constituírem a dupla que irá defrontar Peter Gruber (Jeremy Irons) e os seus homens. E se à primeira vista pensamos que os ataques bombistas (o segundo é no metropolitano) se devem a um ajuste de contas, rapidamente nos apercebemos que por detrás está um plano de grande envergadura, o assalto ao Banco Federal e às suas reservas de ouro, sendo o jogo de “Simon says” uma pura manobra de diversão.


À medida que o tempo decorre é inevitável simpatizarmos com o vilão que, depois de ter sucesso com a sua operação, emite uma declaração em nome dos “explorados e oprimidos” que em todo mundo lutam pela sua libertação e contra o imperialismo, fazendo destruir o navio onde se encontravam como manobra de diversão, seguindo depois com os seus camiões roubados para a fronteira do Canadá e será aí mesmo que serão cercados pela polícia e pelo incansável John McClane, tudo porque os comprimidos comprados por Peter Gruber que sofre de enxaquecas forneceram uma pista a McClane

Chegamos assim a um dos pontos mais curiosos do filme, já que o cineasta criou dois finais, o oficial que passou nas salas de cinema, quando o helicóptero onde se desloca Peter Gruber vai contra os cabos de alta tensão, ou então o que traz a edição de dvd, com o encontro num café na Europa, entre o polícia e o terrorista, oferecendo-nos uma vez mais através de um longo diálogo o perfeito jogo do gato e do rato, num ajuste de contas final.


Ao revermos a série “Die Hard” é inevitável reconhecer como o trabalho de John McTiernan se faz sentir profundamente, não só na realização como na direcção de actores e de todos os filmes realizados até à presente data, será este “Die Hard, A Vingança” o nosso favorito, porque como “Simon says” o vilão é perfeito.

Rui Luís Lima

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