quinta-feira, 9 de maio de 2024

Franco Zefeirelli - “Calas A Diva” / “Callas Forever”


Franco Zefeirelli
“Calas A Diva” / “Callas Forever”
(França – 2002) – (108 min. / Cor)
Fanny Ardant, Jeremy Irons, Joan Ploweight, Jay Rodan, Gabriel Garko.

Quando se pergunta quem foi a maior cantora de Ópera de todos os tempos, a resposta só pode ser uma, Maria Callas. Mas quando se pergunta quem foi o maior cineasta de todos os tempos, ficamos a pensar na resposta. E também sabemos que nunca será Franco Zeffirelli, no entanto será este cineasta controverso a realizar um filme sobre a Diva. As razões são simples, ele conheceu-a bem, para além de ter assinado ao longo da vida diversas encenações de Ópera, tal como Luchino Visconti, que até a dirigiu. Mas ao contrário do que poderíamos supor em “Callas Forever” não estamos perante um “biopic” da célebre cantora, o que seria de temer, encontramos sim um retrato dos seus últimos anos passados em Paris, vivendo a cantora a memória dos seus tempos de celebridade mundial.


À primeira vista poderíamos estar perante uma daquelas xaropadas a que Franco Zeffirelli nos habituou, porém o cineasta consegue fugir desse registo, encontrando em Fanny Ardant a Callas Perfeita e não é por acaso que escrevemos Perfeita com letra maiúscula, porque uma vez mais a actriz francesa consegue superar todas as expectativas, com um trabalho de uma sobriedade digna de nota. Estamos assim perante uma película que retrata os seus últimos anos em Paris, rodagem feita nos locais por onde ela passou incluindo o próprio apartamento onde viveu, situando-se a acção na luta travada por Larry Kelly (Jeremy Irons) amigo e admirador da Diva para o seu regresso ao mundo discográfico (são inúmeras as gravações piratas dela, valendo fortunas) e também para a sua participação num filme baseado na célebre ópera “Carmen”, as novas tecnologias são um ponto muito importante a ter em conta.


Desta feita vamos encontrar Larry Kelly (figura baseada em Franco Rossellini) a chegar a Paris para tratar da digressão de uma banda rock, muito próxima do punk, será nesta cidade que o empresário irá estabelecer os contactos com Maria Callas (Fanny Ardant) para a realização da película, encontrando de imediato a palavra “não” na sua boca.


Ela vive num apartamento onde as memórias habitam o seu interior e a hipótese de um regresso está posta de parte. Porém Larry (Jeremy Irons) não desiste, tornando-se no projecto da sua vida e com a ajuda da jornalista Sarah Keller (Joan Plowright) irá conseguir convencer a Diva a encarar o projecto de forma positiva. Começamos então a assistir ao show do guarda-roupa Channel usado por Fanny Ardant, ao mesmo tempo que se iniciam os preparativos da rodagem do filme, com os fans em êxtase, seguindo todos os seus passos na cidade das luzes.


Entramos assim nesse universo da famosa opera “Carmen” de quem em tempos Francesco Rosi fez uma adaptação fabulosa com Plácido Domingo e Julia Migenes-Johnson (recomendamos vivamente a sua visão) e se preferirem poderão entrar no universo de dois outros cineastas que de formas muito diferentes abordaram a personagem: o espanhol Carlos Saura e Jean-Luc Godard com o polémico “Prénom Cármen”. Regressando ainda a Callas no cinema, convém referir que ela deu vida à personagem de “Medeia” no filme com o mesmo nome de Pier Paolo Pasolini aceitando que o cineasta lhe dobrasse a voz, embora a sua presença não deixe de ser magnética, num dos grandes filmes do cineasta italiano, infelizmente muito pouco divulgado.


De volta a Paris e ao filme “Callas, A Diva”, vamos encontrar a Diva no seu regresso ao grande écran, porém os desentendimentos desta com o realizador escolhido por Larry Kelly (Jeremy Irons) acabam por abortar a operação mediática do seu regresso e quando ela começa a ver as “rushes” e a perceber como o tempo passou deixando as suas marcas desiste do projecto. Como não podia deixar de ser Franco Zeffirelli “puxa a brasa à sua sardinha”, embora consiga oferecer-nos um ambiente propício a captar a atenção do espectador, sendo a imagem oferecida por Fanny Ardant profundamente sedutora. Encontramos nela todos os traços da Diva, as suas memórias da relação com Onassis, assim como a passagem pelos grandes palcos do mundo inteiro.


“Callas Forever” surge como um dos filmes mais interessantes de Franco Zeffirelli numa altura em que já pouco se esperava dele, a forma como os protagonistas nos são apresentados é de uma sobriedade que nos espanta, dado os seus antecedentes, depois tanto Fanny Ardant como Jeremy Irons surgem perfeitamente no interior das personagens que retratam, transformando este filme numa agradável surpresa.

Rui Luís Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário