terça-feira, 7 de maio de 2024

Danis Tanovic - “Terra de Ninguém” / “No Man’s Land”


Danis Tanovic
“Terra de Ninguém” / “No Man’s Land”
(Bósnia/Eslovénia/França/Grã-Bretanha/Bélgica - 2001) - (98 min. / Cor)
Branko Djuric, Rene Bitorajac, Filip Suvagovic, Simon Callow, Katrin Cartlidge.

A antiga Jugoslávia serviu de palco a três livros extraordinários do escritor Lawrence Durrell, são eles "Águias Brancas Sobre a Sérvia", "Cenas da Vida Diplomática" e "Salve-se Quem Puder", os dois últimos narrando as aventuras "diplomáticas" de Antropus. Nestes magníficos livros, o escritor oferece-nos o retrato de uma Jugoslávia sobre o comando do Marechal Tito e, durante muitos anos, a cinematografia Jugoslava elegeu como tema primordial dos seus filmes a chamada luta de libertação durante a Segunda Grande Guerra, oferecendo-nos por outro lado, mas em menor número, histórias do quotidiano.


Com a desagregação da Federação, após a morte do Marechal Tito e o consequente nascimento de diversos Estados, depois de conflitos que espalharam a morte e o terror em larga escala, como todos sabemos, o cinema das novas nações não podia ficar indiferente perante a história recente. E se o bósnio Emir Kusturica é, hoje em dia, o mais conhecido cineasta dos Balcans, especialmente após a feitura da sua obra-prima "Underground", que nos oferece um retrato mordaz e profundamente político do território, já o Bósnio Danis Tanovic decidiu, através do seu "Terra de Ninguém" / "No Man's Land", dar-nos a sua visão do conflito que opôs Sérvios e Bósnios, apontando baterias contra a irracionalidade do conflito, que dizimou milhares de vidas.


Uma patrulha Bósnia a caminho da frente perde-se devido à escuridão, sendo emboscada pelas tropas Sérvias, que terminam por dizimar a quase totalidade dos soldados inimigos, tendo sobrevivido apenas dois militares, que se refugiam numa trincheira. Um batedor Sérvio, enviado para ver se há sobreviventes, termina por ser feito prisioneiro por um dos soldados Bósnios, enquanto o outro não se pode mexer, tendo debaixo de si uma bomba que irá explodir, mal faça algum movimento. Entretanto forças de ambos os lados cercam o local, refugiando-se nas respectivas trincheiras, terminando aquele trio de sobreviventes e antagonistas por ficar numa terra de ninguém.


Como não podia deixar de ser, a situação que por ali se vive chama a atenção das forças de paz da ONU, que se mostram impotentes para resolver o problema, ao mesmo tempo que os "media" invadem a zona, em busca de imagens chocantes para transmitirem em directo nos telejornais, num verdadeiro desejo de sangue e audiências.


Ao longo do filme iremos assistir ao confronto de ideias entre dois homens de credos e ideologias bem diferentes, mas que apenas pretendem sobreviver, ao mesmo tempo que recordam os tempos de paz, por outro lado o retrato que Danis Tanovic nos oferece dos "média" é particularmente feroz, transformando a película num verdadeiro testemunho anti-belicista.


"Terra de Ninguém" / "No Man's Land" surpreendeu todos aqueles que tiveram a oportunidade de o ver. A força desta obra cinematográfica é de tal forma eficaz que até a Academia de Hollywood não ficou indiferente à sua mensagem, oferecendo-lhe o Oscar para o Melhor Filme Estrangeiro atribuindo, desta forma, uma maior visibilidade à película, que acabaria por ser distribuída por todo o mundo, tal como a sua mensagem: a guerra só tem para oferecer o caos e a morte, algo que os media adoram para aumentarem as audiências, porque infelizmente há sempre espectadores ávidos por sangue e morte.

Rui Luís Lima

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