terça-feira, 23 de abril de 2024

Philip Noyce - “Violação da Privacidade” / “Sliver”


Philip Noyce
“Violação da Privacidade” / “Sliver”
(EUA – 1993) – (108 min. / Cor)
Sharon Stone, William Baldwin, Tom Berenger,
Polly Walker, Martin Landau.

Philip Noyce chamou a atenção da capital do cinema, ao realizar em 1989, “Calma de Morte” / “Dead Calm”, onde nos revelava o talento dessa actriz chamada Nicole Kidman e como não podia deixar de ser, pouco tempo depois o realizador australiano, mudou-se com “armas e bagagens” para Hollywood, onde tem desenvolvido a sua carreira de cineasta, assinando películas como “Patriot Games” / “Jogos de Poder – O Atentado”, com Harrison Ford, “O Santo” / “The Saint”, protagonizado por Val Kilmer, “O Americano Tranquilo” / “The Quiet American”, um “remake” do famoso filme de Joseph Mankiewicz ou muito recentemente “Salt” com Angelina Jolie.


“Violação da Privacidade” / “Sliver” realizado em 1993, tinha como principal objectivo lançar Sharon Stone, após o estrondoso sucesso de “Instinto Fatal” / “Basic Instinct”, realizado no ano anterior por Paul Verhoeven, tendo o poderoso produtor Robert Evans (“Chinatown”), encarregue o argumentista Joe Eszterhas de adaptar o livro “Sliver” de Ira Levin, que imediatamente tratou de introduzir a famosa sensualidade nas linhas de diálogo, recorde-se que na época ele era o mais bem pago dos argumentistas a trabalhar em Hollywood.


Tendo em vista que a película se destinava a usufruir do sucesso do anterior filme protagonizado por Sharon Stone, ela irá surgir pela primeira vez na sua carreira, como cabeça de cartaz, numa obra que pretendia levar até ao espectador o célebre “suspense”, mas infelizmente tal não irá suceder.

Carly Norris (Sharon Stone) uma editora de um famoso grupo livreiro, irá mudar-se para um apartamento, situado num sofisticado edifício Nova-Iorquino, onde a anterior inquilina caiu da varanda do apartamento do vigésimo andar, onde habitava, ficando por desvendar pela polícia se se tratava de suicídio ou assassínio.


Ao mudar-se para o seu novo apartamento, de imediato os inquilinos que se cruzam com ela, reparam como Carly é bastante parecida com a anterior inquilina, chegando alguns deles a meter conversa com ela, para lhe falarem precisamente sobre isso. Sendo precisamente um deles, um professor, a próxima pessoa a ser encontrada morta, levando de imediato a Imprensa a interrogar-se sobre as razões de todas aquelas mortes, ao mesmo tempo que o medo se começa a espalhar entre os moradores.


Por outro lado iremos perceber que alguém colocou câmaras de filmar em todas as habitações, seguindo o quotidiano dos moradores, invadindo assim a sua privacidade, incluindo os momentos mais íntimos, como veremos na sequência em que Carly Norris se encontra no banho, numa sequência erótica bem ao estilo do argumentista Joe Eszterhas. Mas ao contrário do que se poderia esperar, ao fim de vinte minutos iremos conhecer a identidade do “voyeur”, o que se irá revelar fatal para o pretendido “suspense” da película, “voyeur” esse, com quem Carly Norris (Sharon Stone) se irá envolver amorosamente, depois de sair de uma relação anterior, que se revelara frustrante.


Philip Noyce irá conduzir o filme através da relação que se vai estabelecendo entre os diversos inquilinos, entre os quais se encontra o escritor de policiais Jake Landsford (Tom Berrenger) a viver uma profunda crise criativa, que fora apresentado num almoço a Carly pelo seu patrão Alex Parsons (Martin Landau); Zeke Hawkins (William Baldwin) o proprietário do edifício que também ali vive, assim como a antiga companheira da jovem assassinada, a modelo Vida Warren (Polly Walker). Sendo através das linhas que unem estes personagens, que a trama do filme irá incidir, revelando-se bastante frouxa. Optando o argumentista por introduzir nos diálogos, um vocabulário ousado no sentido de colmatar a ausência das chamadas cenas escaldantes, o que se irá revelar num verdadeiro desastre, veja-se aliás os diálogos sobre o sexo oposto entre Carly Norris e as colegas na editora.


“Violação da Privacidade” / “Sliver” acaba por não nos oferecer o famoso “suspense”, que tanto prometia a publicidade, ao mesmo tempo que o desenrolar da história é demasiado previsível e rasteiro, nem se salvando Sharon Stone do naufrágio que representa este filme, que tanto prometia e que acaba por se revelar apenas um veículo para a actriz subir a famosa escada de Hollywood, deixando-nos no final Philip Noyce, um certo sabor a “dejá vù”.

Rui Luís Lima

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