terça-feira, 23 de abril de 2024

Krzysztof Kieslowski - “Três Cores: Azul” / “Trois Couleurs: Blue”


Krzysztof Kieslowski
“Três Cores: Azul” / “Trois Couleurs: Blue”
(França/Polónia/Suiça – 1993) – (98 min. / cor)
Juliette Binoche, Benoit Régent, Florence Pernel, Charlotte Very.

Krzystof Kieslowsky nasceu em Varsóvia em 1941, sendo um dos muitos cineastas formados na célebre Escola de Cinema de Lodz, tendo inicialmente dedicado ao documentarismo e a propósito do seu cinema declarou, “queremos dizer a nossa própria verdade, mostrar sem hipocrisia as contradições sociais, denunciar o hiato entre a teoria ideológica e a sua realização quotidiana. Os nossos filmes são filmes de perguntas, não de respostas”, isto numa época em que a ideologia vigente estrangulava a liberdade dos cineastas. E com o fim do regime, que vigorou desde o final da Segunda Grande Guerra até à queda do Muro de Berlin, que originou mudanças profundas na Europa de Leste, o cineasta encetou a feitura da mini-série de televisão “Decálogo” / “Dekalog”, que seria passada nas televisões de todo o mundo, incluindo em Portugal, tornando o seu nome célebre.


Quando em 1993 decidiu fazer a sua célebre Trilogia, “Trois Couleurs”, tendo como símbolo as cores da bandeira francesa e os temas da liberdade, igualdade e fraternidade, o seu nome tornou-se incontornável, ao deixar-nos uma obra cinematográfica de uma reflexão espantosa acerca dos sentimentos na sociedade contemporânea.


“Azul” / “Blue” o primeiro filme da trilogia narra-nos a história de Julie Vignon (Juliette Binoche), que após ter perdido o marido, um compositor de renome, e a sua filha Anna num acidente de viação, irá ver a dor a consumi-la lentamente, isolando-se de tudo e de todos, mergulhando numa profunda depressão, que quase a conduz ao suicídio, ao mesmo tempo que é assaltada pelas memórias da sua feliz e tranquila vida conjugal. E será Olivier (Benoit Régent), o assistente do seu marido, que por seu lado se encontra apaixonado por ela, que irá dar-lhe o tão precioso alento, para a fazer sair do isolamento, esse refúgio imperfeito das dores da alma, decidindo os dois, terminarem a obra “Concerto pour Europe”, deixada inacabada pelo compositor.


A forma como Kieslowski nos mostra, logo a abrir o filme, o acidente é um verdadeiro murro no estômago do espectador, para depois mergulharmos no desespero e no isolamento de Julie (mais uma vez uma Juliette Binoche surpreendente), que iremos acompanhar, sentindo o sofrimento da protagonista pela perda sofrida. E lentamente iremos assistir ao seu regresso ao mundo dos vivos, numa luta incessante com os sentimentos que a invadem, ao mesmo tempo que percebe como é fundamental terminar a obra do marido, deixada inacabada. Sendo o seu encontro com o assistente deste, fundamental para ela encontrar o sentido da vida.


Ao longo do filme o azul é a cor preponderante, veja-se aliás a forma como Kieslowski nos oferece as pautas musicais, à medida que vamos assistindo à conclusão da composição. No entanto a banda sonora da responsabilidade de Zbigniew Preisner revela-se demasiado eloquente, segundo o nosso ponto vista, em busca de uma grandiosidade desnecessária.


Com este belíssimo “Azul” / “Trois Couleurs: Blue”, Krzysztof Kieslowski inicia, de forma surpreendente, o primeiro tomo da sua maravilhosa trilogia, ao qual se seguirá “Branco”, terminando com o célebre “Vermelho”, no qual iremos descobrir no final as personagens principais dos três filmes.

Rui Luís Lima

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