quinta-feira, 18 de abril de 2024

Milos Forman - “Valmont”


Milos Forman
“Valmont”
(França/EUA -1989) – (137 min. / Cor)
Colin Firth, Annette Bening, Meg Tilly, Fairuza Balk, Jeffrey Jones, Henry Thomas.

Todos nós fixámos o nome deste cineasta checo quando surgiu nos nossos écrans essa obra intitulada “Voando Sobre um Ninho de Cucos” / “One Flew Over the Cuckoo’s Nest”, baseada no livro do ex-beatnick Ken Keasy e, como alguns devem estar recordados, na época o cinema Quarteto fez uma retrospectiva do cineasta na qual foi possível descobrir alguns filmes do seu período checo, onde encontrámos obras como “O Ás de Espadas” / “Cerny Petr” sobre a adolescência, “O Baile dos Bombeiros” / “Hori má panenko”, retrato mordaz de uma sociedade e o maravilhoso “Amores de uma Loira” / “Lásky jedné plavovlásky” onde a imagem de um regime se fazia sentir, de forma perfeita e irónica. Depois, com a invasão da Checoslováquia pelas tropas de Pacto de Varsóvia, pondo fim à então chamada “Primavera de Praga”, Milos Forman optou por partir e escolheu a América como a sua segunda casa. Aí rodou primeiro “Os Amores de Uma Adolescente” / “Taking Off” e participou numa obra colectiva sobre os jogos olímpicos,”Visions of Eight”, tendo escolhido o decatlo para nos oferecer a sua visão sobre esta difícil modalidade.

Após o êxito estrondoso de “Voando Sobre um Ninho de Cucos”, realizou o infelizmente pouco conhecido “Ragtime”, retrato de uma nação e viu chegar o reconhecimento de todos com o célebre “Amadeus” em 1984. Cinco anos depois, decide levar ao grande écran o célebre livro de Chordelos de Laclos, “Ligações Perigosas”, tendo escolhido como argumentista o famoso Jean-Claude Carriére. E, mais uma vez, surpreendeu tudo e todos não só pela escolha dos actores: Colin Firth, Annette Bening e Meg Tilly, todos eles com grandes interpretações, como pela sua reconstituição histórica, simplesmente perfeita. Mas na época um outro Estúdio decidiu também levar ao grande écran o célebre romance, partindo da peça de teatro escrita por Christopher Hampton, com John Malkovich, Glenn Close e Michelle Pfeifer, que estaria concluído antes do filme de Milos Forman, terminando por ganhar na batalha das bilheteiras.

“Valmont” de Milos Forman, ao contrário do filme de Stephen Frears, privilegia a reconstituição histórica e o naturalismo, sendo o trabalho dos actores muito mais credível, fruto da excelente direcção do cineasta checo e, ao dizermos isto, não estamos de forma alguma a menosprezar a obra do britânico, apenas pretendemos referir que Forman nos oferece um retrato muito mais plausível e aliciante, fruto das interpretações espantosas dos actores e nunca nos podemos esquecer que esta foi a segunda película de Annette Bening, que nos mergulha numa Madame de Merteuil cheia de sensualidade e cinismo, em busca da vingança, após descobrir que o seu amante Gercourt (Jeffrey Jones) vai casar com a jovem e inocente Cecile de Volanges (Fairuza Balk).

Decide então envolver o seu amigo Valmont (Colin Firth) em apostas amorosas, cuja finalidade é oferecer ao seu amante uma noiva “em segunda mão”. E nesta rede de pequenos enganos e grandes ódios irão cair a bela e inocente Madame de Tourval (Meg Tilly), que se irá apaixonar perdidamente pelo belo Valmont, ao mesmo tempo que o jovem professor de música Danceny (Henry Thomas… em tempos o célebre amigo de “E.T.”) se irá por sua vez perder de amor e razão pela bela Cecília, fazendo-lhe a corte (sempre com a cumplicidade de Madame de Merteuil), apesar de saber que ela está prometida a Gercourt, nascendo aqui a mais perfeita história de intrigas onde todos acabarão por sair a perder, incluindo Valmont, que será morto num duelo pelo jovem Danceny.

Ao revermos hoje esta obra de Milos Forman, descobrimos que o seu ”Valmont” não apresenta as marcas da passagem dos anos, surgindo como um belo e profundo retrato de uma época, a França do século XVIII, em que os jogos de amor e traição conviviam abertamente com a morte e a perdição, porque o que aqui encontramos é esse profundo desejo de amar, esse mesmo desejo que irá consumir a bela Madame de Tourval (Mel Tilly), a qual nunca irá esquecer a enorme paixão que nutre por Valmont, reparem bem como ela vai deixando que o seu amor por ele lhe consuma a vida. A película realizada por Milos Forman respira Cinema por todos os poros!

Rui Luís Lima

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