quarta-feira, 17 de abril de 2024

Luc Besson - “Vertigem Azul” / “The Big Blue” / “Le Grand Bleu”


Luc Besson
“Vertigem Azul” / “The Big Blue” / “Le Grand Bleu”
(França/Itália/EUA – 1988) – (168 min. / Cor - P/B)
Jean-Marc Barr, Jean reno, Rosanna Arquette, Sergio Castellito.

O nome de Luc Besson, hoje em dia, é por demais conhecido do grande público, sendo o seu filme mais célebre “O 5º Elemento”, obra fundamental numa dvdteca de ficção-cientifíca, embora nos dias de hoje seja "Arthur e os Minimeus" a concentrarem todas as atenções, dos mais pequenos aos adultos. Mas o que nos trás hoje aqui é uma das suas aventuras aquáticas intitulada “Vertigem Azul” / “Le Grand Bleu” ou “The Big Blue”, como ficou conhecida no mundo inteiro.


A infância do cineasta esteve desde sempre ligada ao mar, sendo este a sua grande paixão, tendo até como sonho de adolescente o tornar-se biólogo marítimo especializado em golfinhos, o seu ex-libris, já que a sua companhia de produção inicial se chamava precisamente “Les Films du Dauphin”, nascendo duas películas desse amor: “Vertigem Azul” (o filme de ficção, do qual foi também argumentista); “Atlantis”, o documentário (rodado nos mesmos locais do filme de ficção e composto apenas de imagens e música de Eric Serra (1), as palavras estão ausentes.)


A sua primeira obra foi uma curta-metragem intitulada “L’Avant Dernier”, datada de 1981 e protagonizada por Jean Reno, o seu actor favorito. Depois foi a estreia na longa-metragem com “O Último Combate” / “Le Derniére Combat”, passado num universo apocalíptico, onde a civilização deu lugar ao caos e à barbárie. Filmado num preto e branco rigoroso, esta obra tem diversos pontos de contacto com a séria australiana “Mad Max”.


Dois anos depois regressaria num filme estilizado e perfeitamente oposto ao anterior, intitulado “Subway”, com personagens habitando no interior do metro/subway, mas com um toque de futurismo e uma fotografia muito próxima do modelo instituído pelo cineasta Jean-Jacques Beineix, autor no verdadeiro sentido da palavra de obras como “A Diva e os Gangsters” / “Diva” e “A Lua na Valeta” / “La lune dans le caniveau”. Por outro lado foram “convocados” como protagonistas Christopher Lambert e Isabelle Adjani, então no apogeu no mundo das estrelas francesas.


Em 1988, ou seja três anos depois, nasce este “Vertigem Azul”, o filme mais pessoal do realizador onde o mar, os golfinhos, a amizade e a competição de dois mergulhadores irão constituir o “centro do mundo”. Recorde-se que foi devido a um acidente ocorrido aos 17 anos, a razão que impossibilitou Luc Besson de se tornar o biólogo marítimo que tanto ambicionava.

“The Big Blue” conta-nos a amizade entre dois miúdos possuidores de um ambiente natural e íntimo chamado mar, mais precisamente o mar mediterrâneo. Enzo e Jacques são dois amigos que mergulham de óculos e barbatanas pesquisando as águas e os seus habitantes, mas a morte do pai de Jacques Mayhol (Jean-Marc Barr), mergulhador de profissão, origina a perda de contacto entre ambos.


E a vida continua (como diria Abbas Kiarostami), até ao dia em que Jacques Mayhol a trabalhar para uma expedição científica, mergulhando em águas geladas e nadando por debaixo do gelo é comparado pelo chefe da expedição a um golfinho, aliás será ele humano ou golfinho?

Durante essa expedição Jacques, amante do mar, conhece Johanna (Rosanna Arquette) que se apaixona por ele e mais tarde o segue até Taormina na Itália, inventando um pretexto para o reencontrar e acompanhá-lo no campeonato de mergulho.


Nas águas azuis de Taormina, Jacques e Enzo (Jean Reno) reencontram-se, sendo o italiano campeão do mundo de mergulho. Embora entrando na competição, Jacques Mayhol não pretende competir, mas sim encontrar o desejo profundo do oceano, esse espaço mágico onde o corpo humano se adapta ao seu novo ambiente, “the big blue”, decididamente a sua casa.

Johanna compreende que não tem uma mulher a lutar pela posse do seu corpo amado, mas sim a beleza de um oceano maravilhoso onde habitam sereias, as verdadeiras amantes de Jacques Mayhol, essas mesmas sereias personificadas pelos golfinhos que ele tanto ama, terminando por descobrir que ele é mais um golfinho em busca de um lugar no oceano azul, do que um ser humano desejando constituir família e viver à superfície. A cor da força do amor é decididamente “blue” e aquática.


“Vertigem Azul” / “The Big Blue”, a obra tão amada por Luc Besson, surgiu inicialmente com uma duração de 119 minutos na distribuição internacional, embora em França a versão exibida tivesse 132 minutos. Todos sabemos como são as imposições dos distribuidores americanos mas, graças ao dvd, foi lançada no mercado uma versão de 168 minutos, o célebre “Director's Cut”, que nos oferece “Le Grand Bleu” em todo o seu esplendor, recuperando a magia do cinema e introduzindo personagens esquecidas na mesa de montagem.

“The Big Blue” teve uma importância tão grande para Luc Besson que, três anos mais tarde, voltou aos mesmos locais para rodar o célebre documentário “Atlantis”, dedicado inteiramente aos golfinhos e à vida marítima. De certa forma o seu sonho de criança, interrompido na adolescência, tornou-se realidade através do cinema. “Vertigem Azul é uma história de Amor de um Homem pelo Oceano e o seu desejo de viver com os seus irmãos golfinhos: a beleza do oceano mora por aqui!

(1) – O seu compositor de “serviço”.

Rui Luís Lima

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