quarta-feira, 17 de abril de 2024

Lawrence Kasdan - “O Turista Acidental” / “The Accidental Tourist”


Lawrence Kasdan
“O Turista Acidental” / “The Accidental Tourist”
(EUA – 1988) – (121 min. / Cor)
William Hurt, Kathleen Turner, Geena Davis,
Amy Wright, Bill Pullman.

Quando se fala de obras literárias adaptadas ao cinema, um livro de imediato surge na minha memória, a sua autora chama-se Anne Tyler e na época tornou-se um sucesso de vendas no mundo inteiro, estamos a falar como já deve ter percebido de “O Turista Acidental”.


Depois foi a inevitável adaptação cinematográfica e qual não foi o meu espanto, cansado de ler romances adaptados ao cinema inevitavelmente adulterados, ao verificar que nem uma linha foi alterada.


A obra da americana Anne Tyler é reproduzida fielmente ao grande écran por Lawrence Kasdan / Frank Galati. Curiosamente, alguns anos depois de me ter apaixonado por este livro/filme, ao entrar na livraria da Barnes & Nobles em Santa Mónica, encontro um daqueles sacos então na moda, para transportar livros, com o rosto de Anne Tyler e de imediato me recordei do trio de “O Turista Acidental”, constituído por William Hurt, Kathleen Turner e Geena Davis, acabando por comprar a edição americana do livro, já que a edição portuguesa, de tão lida, poucas eram as folhas que ainda se encontravam coladas e, passadas duas décadas, continuo apaixonado por este romance brilhantemente adaptado ao cinema.


“O Turista Acidental” / “The Accidental Tourist” é uma das mais comoventes histórias de amor que o cinema nos ofereceu, em que a perda de um filho acaba por levar ao esquecimento do amor que unia o casal Leary (William Hurt e Kathleen Turner), com a consequente separação, refugiada na desculpa de se precisar de colocar as ideias em dia e quem sabe recomeçar uma nova vida.


Macon Leary (William Hurt) escreve guias de viagens, daí o nome “Turista Acidental”, tendo até o seu editor, o solteirão Julian (Bill Pullman), criado um logótipo para os seus livros de viagens: um sofá com asas. E como veremos logo no início do filme os seus livros são um sucesso, devido aos conselhos que dá a todos aqueles que viajam.


Macon vive numa daquelas casas tipicamente americanas, demasiado grande para um homem só, apesar de ainda possuir a companhia do cão, que o filho tanto amava, um animal que desde a morte da criança possui crises de “mau humor”, ladrando e mordendo a quem se aproxima dele. Até que chega esse dia em que terá de partir para Londres, para escrever mais um dos seus famosos guias, vendo-se obrigado a deixar o seu cão ao cuidado do “Miau-Béubéu”, onde conhece a treinadora de cães Muriel Prichett (Geena Davis), que irá alterar decididamente o seu sentido na vida.


Ao regressar da viagem a Londres, decide contratar Muriel para treinar o cão, de forma a torná-lo obediente e dócil. Mas Muriel, que não tem papas na língua e não esconde os sentimentos, tem um filho que sofre de diversas alergias, no qual Macon começa a rever o seu filho, morto por um lunático com um tiro na cabeça, quando saía de um MacDonald’s.


Muriel abre-lhe as portas do seu pequeno mundo, oferecendo-lhe um novo rumo de vida tão diferente e distante daquele em que ele sempre vivera, mas quando Sarah (Kathleen Turner) surge no casamento de Rose (a irmã de Macon) e Julian (o editor de Macon), bela e sensual, ele termina por regressar a um passado (in)seguro, abandonando a mulher que lhe tinha eliminado a solidão da sua vida, acarinhando-o sempre, com toda a ternura do mundo. Mas Muriel não está disposta a perder o único homem que amou na vida e decide lutar por ele, seguindo-o até Paris, a famosa cidade das luzes, onde tudo fará para recuperar o amor perdido de Macon Leary.


Lawrence Kasdan assina com esta película um dos mais belos melodramas da história do cinema. E se pensarmos em cineastas como Douglas Sirk e John Sthal, dois dos nomes mais famosos do género, só poderemos concluir que se eles regressassem à terra, certamente iriam adaptar ao cinema esta apaixonante obra de Anne Tyler.

Rui Luís Lima

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