segunda-feira, 29 de abril de 2024

John Carpenter - “Fuga de Los Angeles” / “Escape From L.A.”


John Carpenter
“Fuga de Los Angeles” / “Escape From L.A.”
(EUA – 1996) – (101 min. / Cor)
Kurt Russell, Steve Buscemi, Peter Fonda, Cliff Robertson,
Valeria Golino, Stacey Keach, Pam Grier, Georges Corraface.

John Carpenter, esse cineasta oriundo dos “movie-brats”, nunca escondeu a sua paixão pela Série-B e mais uma vez ele vai convoca-la para nos narrar mais uma aventura desse marginal do sistema conhecido por Snake Plissken (Kurt Russell), que nasceu para o universo cinematográfico em “Escape From New York”, nesse ano já longínquo de 1981. Contando com a habitual colaboração da sua produtora Debra Hill, na verdade a sua alma gémea ao longo de uma carreira que se estende por décadas, Carpenter até irá contar com o auxílio de Kurt Russell na feitura do argumento, já que o actor adorou interpretar essa personagem que, com a sua pala no olho, invoca a figura dos lendários piratas.


E se em “Nova Iorque 1997”, Snake Plissken, que gosta de ser tratado apenas por Snake, teve que ir a essa metrópole presídio resgatar o Presidente, desta vez a acção situa-se em 2013 e nessa Los Angeles, também ela um presídio, com características bastante diferentes já que, após um tremor de terra, se separou do continente americano, transformando-se numa ilha para onde são enviados os indesejáveis.
A América é governada por um Presidente puritano (interpretado pelo veterano Cliff Robertson – recordam-se dele em “Os Três Dias do Condor”?) – cuja filha, apaixonada pelo revolucionário Cuervo Jones (Georges Corraface), uma espécie de marginal guerrilheiro da América Latina, desvia o avião onde viaja, levando-lhe como prenda uma mala negra que possui os códigos para controlar os satélites americanos e as respectivas fontes de energia.


A missão de Snake (Kurt Russell) é recuperar a preciosa pasta, embora desta vez o resgate da jovem não faça parte da sua missão, sendo-lhe introduzido um vírus no corpo, tal como sucedia em “Nova Iorque 1997”, que o irá matar ao fim de 10 horas, sendo esse o tempo disponível ao nosso herói para cumprir a sua missão, como lhe explica o comandante Malloy (Stacy Keach, outro veterano das lides cinematográficas, bem conhecido de muitos de nós).


Iremos assim mergulhar num mundo saído de uma espécie de pós-apocalipse, onde Snake (Kurt Russell) se irá cruzar com gente bem estranha, desde o famoso Map to the Stars Eddie (Steve Buscemi), numa sátira aos mexicanos que se podem encontrar em Hollywood a vender os mapas a indicar onde moram as estrelas de cinema, passando pela bela Taslime (Valeria Golino) que o irá ajudar na sua viagem por essa Hollywood destruída, onde iremos descobrir referências à Disney “que ficou arruinada com esse negócio em Paris”, ao mesmo tempo que vemos circular o carro de “Grease” nas ruas destruídas, onde também encontramos os famosos Chinese Theater e Hollywood Bowl.


A missão de Snake é na verdade recuperar a preciosa mala, para assim o Presidente dar ordem através dela para destruir as forças do Terceiro Mundo, que se preparam para invadir a América. Um Presidente que transformara o seu cargo em vitalício, ao mesmo tempo que deslocara a capital norte-americana para a cidade de Lynchburg que o viu nascer.


O humor corrosivo de John Carpenter não tem limites, nesta película anti-politicamente correcta se me é permitida a expressão e os cenários destruídos que nos oferece são bem conhecidos de todos, ao mesmo tempo que usa a tecnologia de forma soberba, brincando com os meios ao seu dispor, numa profunda homenagem à Série-B, de que é um fã incondicional como todos sabemos.


“Escape From LA” / “Fuga de Los Angeles” convoca as ideologias para se rir delas, ao mesmo tempo que nos oferece um filme onde a acção não falta, no verdadeiro sentido da palavra, para no final nos surpreender uma vez mais, ou não se chamasse o seu anti-herói Snake Plissken.

Rui Luís Lima

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