sexta-feira, 12 de abril de 2024

André Téchiné - “O Encontro” / “Rendez-Vous”


André Téchiné
“O Encontro” / “Rendez-Vous”
(França - 1985) – (82 min. / Cor)
Lambert Wilson, Juliette Binoche, Jean-Louis Trintignat, Wadeck Stanczak.

O romantismo no cinema europeu teve em François Truffaut um dos seus grandes Mestres e, após a sua morte, algumas interrogações surgiram acerca dos herdeiros potenciais do seu cinema. Mas não era de herança cinematográfica que se tratava, era sim o encontro de novas formas estéticas e românticas, para uma arte onde o amor é a melhor fórmula do olhar.


Jean-François Adam, cineasta que não resistiu à vida, suicidando-se, após realizar “Regresso a Amada”, com uma interpretação soberba de Jacques Dutronc, interrogava as possibilidades de o amor sobreviver à dor na sociedade contemporânea, dilacerada pela guerrilha quotidiana dos sentimentos. André Téchiné, com “Rendez-Vous” / ”Encontro”, originou um novo encontro entre o amor e a paixão.


Nina (Juliette Binoche) parte do campo para a cidade (Paris), transportando apenas dezoito anos na bagagem. Queria viver a vida, ser actriz e contavam-se pelos dedos as noites que dormia sozinha. Numa das suas viagens pelas agências imobiliárias, encontra por fim um lugar que seja seu, num apartamento invadido pelas marcas do tempo, mas descobre também a paixão louca de Quentin (Lambert Wilson): um Romeu que perdeu a sua Julieta, só encontrando na morte o único meio possível para compartilhar o território celeste.


A loucura apodera-se de Nina e não é Paulot (Wadeck Stanczak), com a sua moral patética, que poderá compreender Nina. As regras que ela desprezava, caíram no seu corpo, oferecendo-lhe a descoberta de que nada se dá, tudo se conquista, perdendo-se um pouco a pureza original.


André Téchiné, tal como Maurice Pialat (*), nunca foram vistos como discípulos da Nouvelle Vague e o segundo até dizia a quem o quisesse escutar que nada tinha a ver com ela, mas são ambos continuadores desse cinema romântico de François Truffaut..


Téchiné é, na verdade, um dos mais importantes cineastas franceses e um autor no verdadeiro sentido, defendido ao longo dos anos pelos Cahiers du Cinema, já que o seu cinema é o romantismo nas mais diversas formas, compare-se “Juncos Silvestres” / ”Les Roseaux Sauvages” com “Não dou Beijos” / ”J’Embrasse Pas” assim como as interpretações de Élodie Bouchez e Emmanuelle Béart ou se preferirem “O Local do Crime” / ”Le Lieu du Crime” com “Os Ladrões” / ”Les Voleurs”, ambos com Catherine Deneuve, em todos eles existe o romantismo na sua forma mais carnal, deixando sempre impressa a marca do cineasta, assim como dos intérpretes que com ele têm trabalhado ao longo dos anos. Recordar e (re)ver “Rendez Vous” representa uma pequena viagem ao passado de um dos mais importantes cineastas franceses pós-nouvelle vague.


(*) – E nós, que somos nostálgicos, recomendamos aqui, com ou sem pretexto, aquele que é para nós o mais belo filme realizado por Maurice Pialat, o apaixonante “Loulou” com um Gerard Depardieu único e uma Isabelle Huppert translúcida de beleza.

Rui Luís Lima

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