sexta-feira, 26 de abril de 2024

Abbas Kiarostami - “Através das Oliveiras” / “Zire Darakhatan Zeyton”


Abbas Kiarostami
“Através das Oliveiras” / “Zire Darakhatan Zeyton”
(França/Irão – 1994) – (103 min. / Cor)
Mohamad-Ali Keshhavarz, Farhad Kheradmand,
Zarifeh Shiva, Hossein Rezai.

Na década de noventa o cinema ocidental foi confrontado com a cinematografia iraniana e muito em especial com a obra de Abbas Kiarostami, entrando o espectador através da Sétima Arte no quotidiano iraniano, preenchendo-se desta forma uma enorme lacuna, dando-nos a conhecer o dia a dia dos seus habitantes, assim como a sua cultura, até então desconhecida do cinéfilo.


Desde a primeira hora a cinematografia iraniana demonstrou um determinado número de afinidades com o cinema neo-realista italiano, surgido após a Segunda Grande Guerra, confessando Abbas Kiarostami, sem dúvida alguma o mais importante cineasta iraniano, a influência exercida pela obra de Roberto Rossellini no interior do seu cinema. E ao depararmos com “Através das Oliveiras” / “Zire Darakhatan Zeyton” iremos ser surpreendidos com um filme dentro do filme, ou melhor somos convidados a assistir às filmagens de uma película onde dois dos seus interpretes se irão digladiar pelos afectos do coração, um tema de certa forma impensável de encontrar num filme vindo da Republica Islâmica do Irão.


Mais uma vez Abbas Kiarostami, irá usar actores amadores, excepto o que oferece corpo à personagem de realizador do filme, que luta, de forma inglória, em rodar uma determinada cena, que termina sempre por ser sabotada, por esses afectos sentidos pelo protagonista masculino, mas que não são correspondidos pela jovem actriz, originando uma nova repetição do take, levando ao desespero, o realizador e a equipa de produção do filme.


Embora “Através das Oliveiras” não seja o “opus-magnum” da filmografia de Abbas Kiarostami é possível encontrar nesta película os habituais traços que caracterizam o seu cinema: o quotidiano como personagem e os exteriores como local de eleição para o desenrolar da acção, ao mesmo tempo que se "pisca o olho" à comédia, perante o olhar (des)atento da censura.

Rui Luís Lima

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