domingo, 31 de março de 2024

Wim Wenders - “Movimento em Falso” / “Falsche Bewegung”


Wim Wenders
“Movimento em Falso” / “Falsche Bewegung”
(Alemanha - 1975) – (103 min. / Cor)
Rudiger Vogler, Hanna Shygulla, Nastassja Kinski, Lisa Kreuzer, Ivan Derny.

Wim Wenders, o mais fascinante cineasta alemão depois de Rainer Werner Fassbinder, decidiu trocar a Alemanha pela América, a sua nova Pátria, para mais tarde se tornar uma espécie de cidadão do Planeta. O filme de que desejamos falar hoje é um road movie, com estradas, mas sem carros intitulado "Movimento em Falso".


"Movimento em Falso" / “Falsche Bewegung” e uma película datada de 1975, que constitui segundo muitos um dos andamentos da sua trilogia alemã "on the road", composta por "Ao Correr do Tempo" / "Im Lauf der Zeit", "Alice nas Cidades" / "Alice in den Stadten" e a obra em questão. Se a viagem através da Alemanha em busca de uma identidade individual e colectiva, perdida nas cinzas da memória da História recente, é o elo de ligação entre os três filmes, já o tema da viagem é um elemento constante de todos as suas películas do período alemão, a par da memória do cinema norte-americano, bastando recordar "Paris/Texas" e "Hammett", para já não falarmos em "Nick's Movie" um outro género de memória, como todos sabemos.


"Falsche Bewegung" / "Movimento em Falso" é a viagem de Wilhelm (Rudiger Vogler) através da Alemanha (debaixo da sombra de Goethe) em busca da sua própria vocação adormecida: ser escritor. Decidindo conviver com todos aqueles que vai encontrando ao longo do seu trajecto. Os seus companheiros de estrada são uma actriz (Hanna Schygulla) – a presença dela é cristalina – um velho, antigo membro das SS, (representante do passado e da sua história recente), uma adolescente (Nastassja Kinski) e um poeta meio-louco mas civilizado.


Mais uma vez Wim Wenders nos oferece o seu retrato da Alemanha através de personagens marginais, embora contendo no seu interior o exemplo perfeito da composição social. Recorde-se que este filme foi ainda realizado nessa década que ficou conhecida como os "anos de chumbo" e que de certa forma foram retratados nesse filme colectivo intitulada "A Alemanha no Outono" / "Deutschland im Herbst", no qual Wim Wenders curiosamente não participou.


Olhar esta película de Wim Wenders é encontrar a solidão: a maior inimiga do ser humano. E é essa mesma solidão que nos acaba por invadir durante o visionamento de "Movimento em Falso", obrigando-nos a procurar após o seu final outros rostos humanos, em busca de palavras/diálogos para a construção de um novo romance.

Rui Luís Lima

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