sexta-feira, 10 de maio de 2024

Ron Shelton - “Homicídio em Hollywood” / “Hollywood Homicide”


Ron Shelton
“Homicídio em Hollywood” / “Hollywood Homicide”
(EUA – 2003) – (116 min. / Cor)
Harrison Ford, Josh Hartnett, Lena Olin, Bruce Greenwood,
Martin Landau, Lolita Davidivich, Isaiah Washington, Robert Wagner.

Ron Shelton iniciou a sua carreira fazendo o pleno, desde assistente de realização em “Under Fire” / “Debaixo de Fogo”, passando a argumentista, até chegar à realização. Entrou com o pé direito na realização do seu segundo filme, intitulado “Blaze” / “Blaze – Um Amor Proibido”, onde nos oferece um retrato bastante mordaz e corrosivo sobre a vida de Blaze Starr, onde Paul Newman nos surge no seu melhor, ao lado dessa excelente actriz chamada Lolita Davidovich, por sinal esposa do cineasta.


Conhecedor profundo de Hollywood, Ron Shelton, em “Homicídio em Hollywood” / “Hollywood Homicide” decide oferecer-nos um retrato mordaz de uma dupla de detectives e desde já podemos avisar que estamos bastante distante de “Dia de Treino” / “Training Day” de Antoine Fuqua, porque aqui o olhar navega sobre a comédia. E mais uma vez Harrison Ford não deixa os seus créditos por mãos alheias. E dizemos isso porque tanto o sargento Joe Gavilan (Harrison Ford) como o seu colega K.C. Calden (Josh Hartnett) possuem outra profissão para além da de polícia. Se o primeiro se dedica à venda de casas e propriedades, conjugando esta actividade com a de polícia com uma certa dificuldade, já o segundo aspira a ser actor, aproveitando todos os intervalos na sua actividade policial para estudar o papel outrora pertencente a Marlon Brando na famosa peça/filme “Um Eléctrico Chamado Desejo” / “A Streetcar Named Desire”.


Percebemos de imediato que o território abordado por Ron Shelton é a comédia, embora nunca se esqueça de a pontuar com cenas de acção. Mas a sua visão do universo das estrelas do rap/hip hop é profundamente mordaz, oferecendo-nos a forma como são criados sucessos pelos produtores, ao mesmo tempo que nos mostra como ele é quase sempre efémero, não havendo por vezes regras do jogo, mas sim regras da rua onde as armas criam um outro refrão bem diferente daquele que nasce na linguagem característica do rap.


Por outro lado, o retrato que nos faz das estrelas de cinema é de um simbolismo perfeito, quando vemos o próprio Robert Wagner (himself) no célebre Passeio da Fama em Hollywood Boulevard a colocar as suas mãos no cimento, desconhecendo que irá falhar esse momento tão desejado devido à perseguição policial. E aqui temos mais um retrato do quotidiano de Hollywood, porque quem passa por aquela Free Way de LA sabe que é mesmo assim, com os helicópteros das estações de televisão no ar sempre em busca de uma perseguição automóvel, para a transmitir em directo, seguindo os helicópteros da polícia muito pouco discretamente.


Iremos assim acompanhar estes dois detectives que anseiam por mudar de profissão, a seguirem o rasto dos assassinos de um grupo de rap, ao mesmo tempo que um vai tentando vender uma propriedade e o outro estuda os diálogos de “Um Eléctrico Chamado Desejo”, não perdendo uma oportunidade para afinar a sua voz no famoso grito: “Stella!!!”, terminando ambos por concretizar os seus objectivos. Mas se a venda da propriedade de Jerry Duran (Martin Landau), um produtor de Hollywood, é um sucesso para Joe Gavilan, já a representação do jovem Calden é um desastre, sendo até a sua actuação interrompida em pleno palco pelo seu telemóvel que não pára de tocar, para o convocar para mais uma investigação. Decididamente os dois detectives possuem duas profissões que não são nada compatíveis.


“Homicídio em Hollywood” / Hollywood Homicide”, que possui um excelente conjunto de secundários com provas mais que dadas, oferece-nos uma comédia bastante refrescante que trata o mundo do cinema por tu, fruto do saber de Ron Shelton, bem como um retrato mordaz sobre as duplas de detectives, constituídas pelo veterano e o novato. Ron Shelton termina por realizar uma película com todos os ingredientes do policial, mas sempre com a comédia bem presente.

Rui Luís Lima

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