quarta-feira, 8 de maio de 2024

Peter Jackson - “A Irmandade do Anel” / “As Duas Torres” / “O Regresso do Rei”


Peter Jackson
“A Irmandade do Anel” / “The Fellowship of the Ring”
(Nova-Zelândia - 2001) - (178 min. / Cor)
Viggo Mortensen, Elijah Wood, Ian McKellen,
Orlando Bloom, John Rhys-Davies, Sean Austin,
Sean Bean, Christopher Lee, Liv Tyler,
Andy Serkins, Cate Blanchett.


Peter Jackson
“As Duas Torres” / “The Two Towers”
(Nova-Zelândia - 2002) - (179 min. / Cor)
Viggo Mortensen, Elijah Wood, Ian McKellen,
Orlando Bloom, John Rhys-Davies, Sean Austin,
Sean Bean, Christopher Lee, Liv Tyler,
Andy Serkins, Cate Blanchett.


Peter Jackson
“O Regresso do Rei” / “The Return of the King”
(Nova-Zelândia - 2003) - (201 min. / Cor)
Viggo Mortensen, Elijah Wood, Ian McKellen,
Orlando Bloom, John Rhys-Davies, Sean Austin,
Sean Bean, Christopher Lee, Liv Tyler,
Andy Serkins, Cate Blanchett.


"Três anéis para os Reis Elfos debaixo do Céu, /
Sete para os Senhores dos Anões nos seus palácios de pedra,/
Nove para os Homens Mortais condenados a morrer, /
Um para o Senhor das Trevas no seu negro trono /
Na Terra e Mordor onde moram as Sombras. /
Um anel para a todos dominar, um anel para os encontrar, /
Um anel para a todos prender e nas trevas os reter /
Na Terra de Mordor onde moram as Sombras."

Este podia bem ser, de alguma forma, o resumo de toda a saga de "O Senhor dos Anéis"/ "The Lord of the Rings".


Nascida da imaginação de J R R Tolkien, esta é uma saga que à partida, para quem a leu, parecia intransponível para o grande écran, dada a sua enorme complexidade.

Muitos o tentaram, mas coube finalmente a Peter Jackson, cineasta quase desconhecido do grande público na altura em que os realizou, esta monumental tarefa. Recorde-se que o seu nome começou a surgir na área do filme de terror com esse gore-movie intitulado "Braindead"/ “Morte Cerebral” e depois começou a dar nas vistas com essa história de amizade e amor entre duas adolescentes intitulada "Heavenly Creatures" / “Amizade Sem Limites”, onde já brilhava Kate Winslet, ainda a dar os primeiros passos de uma carreira cheia de talento.


Durante mais de três anos, na Nova Zelândia, viveram actores, realizador e toda a equipa necessária para levarem adiante este projecto, embora o mercado local também estivesse na base de muito daquilo que foi feito. Esta enorme duração, comparada com a realização de outros filmes, deve-se ao facto de terem optado por realizar os três episódios de seguida, talvez também para garantir alguma coerência em tudo o que foi feito. A grande maioria dos locais de filmagens foram escolhidos muito tempo antes destas começarem, tendo alguns deles sido seleccionados por dois artistas ilustradores, dedicados à obra de Tolkien.

Como já foi dito, esta é uma obra literária de J R R Tolkien (que tinha como principal ocupação o ser professor de línguas já desaparecidas), escritor que criou todo um mundo à parte, inclusivé com os seus próprios dialectos já que, entre outros, se "fala" élfico por estas histórias.


Escritos num período que abrange a Segunda Guerra Mundial, por muitos é entendido que este "Senhor dos Anéis" / “Lord of the Rings” reflecte um pouco do conflito que se vivia pelo mundo inteiro nessa altura e também consta que os estudiosos da sua obra reconhecem por aqui preocupações ecológicas (ver episódio das árvores na velhíssima floresta de Fangorn).

Ele cria assim um mundo em que convivem as mais diversas raças, cada uma delas com uma forma diferente de encarar a vida e o mundo. Se por um lado temos os "aparentemente" despreocupados hobbits, com Frodo (Elijah Wood), Sam (Sean Astin), Merry (Dominic Menaghan) e Pippin (Billy Boyd), por outro encontramos os homens dos quais Aragorn (Viggo Mortensen) e Boromir (Sean Bean) são os seus representantes na Irmandade, bem como anões, elfos, orcs, magos, etc.


Tudo começa com a festa de anos do tio de Frodo, Bilbo Baggins (Ian Holm). Embora faça cento e muitos anos, no mesmo dia do seu sobrinho, ninguém sabe que o seu ar jovial se deve ao facto de em tempos idos ter "surripiado" o anel a Gollum (Andy Serkins) (1), algures numa das suas anteriores aventuras (ler "O Hobbit" do mesmo autor). Gandalf (Ian McKellen), o mago, grande amigo dos hobitts em geral e de Frodo e Bilbo em especial, é o único a saber que a jovialidade de Bilbo tem a ver com a magia, neste caso concreto, com o poder que o Anel Um tem de manter os seus detentores vivos, enquanto se apodera da sua mente, dominando-os.

É Gandalf que convence Bilbo a separar-se do anel e durante a sua festa de aniversário, este desaparece (um dos poderes do anel é tornar o seu detentor invisível, ao colocá-lo no dedo), deixando o anel a Frodo. Ao ser determinado que este é o Anel Um, "que a todos domina", Gandalf convence Frodo que é necessário destruí-lo e assim começam as aventuras deste pequeno hobbit que, à partida, vai ter a companhia de Sam, o seu jardineiro e amigo.


Quando estão os dois prestes a abandonar o Shire, terra dos hobbits, aparecem os seus amigos Merry e Pippin. O destino dos quatro será uma estalagem onde Frodo combinou encontrar-se com Gandalf, sem saber que este corria grandes perigos, ao tentar investigar a forma de destruir o Anel.

Começa aqui a perseguição a Frodo e aos seus companheiros por parte dos Cavaleiros Negros, já que estes conseguiram descobrir, através de Gollum, que o Anel Um estaria no Shire, com hobbits.


Aparece então a figura do "Strider"/Caminhante (Viggo Mortensen), que os passa a acompanhar até estes conseguirem, após muito custo, alcançar o local onde está Gandalf. Entra-se assim no reino dos Elfos, onde se efectua uma reunião para determinar o que fazer ao Anel, chegando-se à conclusão que a sua destruição é absolutamente necessária, podendo unicamente ser feita na Montanha da Perdição, dentro do reino maléfico de Mordor, onde o olho do malvado Sauron tudo vê, sendo necessário alguém para o transportar.

Frodo oferece-se para essa árdua tarefa e aí se estabelece então a tão falada Irmandade do Anel, composta por quatro hobbits (Frodo, Sam, Merry e Pippin), dois homens (Aragorn/Caminhante e Boromir), o anão Gimli (John Rhys-Davis) (2), o elfo Legolas (Orlando Bloom) e Gandalf, o mago.


De notar que lutas passadas fazem com que anões e elfos sejam naturalmente desconfiados entre si, fazendo com que as cenas entre Legolas e Gimli tenham alguma graça de início e se note como o argumento transparece o descrito no livro, já que a convivência entre os dois faz com que estabeleçam, bem como com todos os outros, uma belíssima amizade.

Desta estadia no reino dos elfos descobre-se a história de amor vivida por Aragorn e Arwen (Liv Tyler), a qual contra a vontade do seu pai Elrond (Hugo Weaving, o famoso Mr. Smith de "Matrix"), opta por uma vida terrena, ao lado do seu amor.


Muitas são as aventuras por que vão passar os nove, a partir desta reunião!

O facto de um dos caminhos de montanha estar impedido, faz com que passem por um dos muitos reinos subterrâneos dos anões: Moria. Os diversos perigos que se escondem nas profundezas fazem com que a irmandade se separe uma primeira vez, já que para salvar os restantes oito, Gandalf se sacrifica.

A partir daqui e após muitas privações, deixará de ser Gandalf o Cinzento, para passar a ser Gandalf o Branco.


Após Moria, a floresta de que Galadriel (Cate Blanchet, perfeitamente etérea) é senhora e rainha, será a próxima paragem, onde lhes são dados elementos preciosos para a atribulada estrada que se lhes apresenta pela frente.

Boromir, um dos representantes dos homens, sente-se tentado pelo anel e essa tentação vai precipitar a sua morte, a fuga de Frodo e Sam e a captura por orcs de Merry e Pippin.

O primeiro episódio/filme termina com estes acontecimentos.


No segundo e terceiros episódios e para não alongar mais a história vão-se suceder aventuras e desventuras, batalhas entre homens, elfos, orcs e hostes de Saruman (um fabuloso Christopher Lee, quem se lembra dele nos filmes de terror da Hammer, "envergando o fato" do Conde Drácula, que tantas plateias fez arrepiar) e Sauron. Duas dessas batalhas são determinantes nos livros: a de Elm's Deep, para salvar o reino de Gondor e a de Minas Tirith, a cidade branca, da qual Aragorn é o herdeiro natural.

Uma última grande batalha será a decisiva, já que homens e elfos optam por atacar Sauron, às portas de Mordor, para tentar uma manobra de distracção que permita a Frodo destruir o Anel na Montanha da Perdição.


Frodo, após longa e penosa caminhada, com Sam e Gollum (que se junta aos dois pequenos hobbits para tentar por todos os meios roubar este Anel, que em tempos já foi seu) e quando chega à beira do abismo para destruir o anel, tem a reacção que todos os antecessores portadores deste anel tiveram, ou seja, não o quer destruir e sim ficar com ele. É a intervenção inesperada de Gollum que faz com que tudo se resolva e o mundo inteiro possa respirar de alívio ao sentir afastar-se a nuvem negra que começava a rodeá-lo.

Estes três filmes de Peter Jackson conseguem ser das melhores adaptações literárias ao cinema que já presenciámos. Recorde-se que Tolkien escreveu a obra como livro único, tendo sido o seu editor a solicitar a divisão da obra em três livros, o autor não gostou muito da ideia, mas terminou por seguir a sugestão do editor. Embora haja episódios dos livros que aqui não estão retratados, de que é exemplo a estadia com Tom Bombadill, percebe-se que tiveram que optar por manter uma linha condutora forte e minimizar os episódios adicionais que encontramos no livro. Quem leu os livros sabe do que falo.


Para quem gosta do fantástico, são com certeza livros para ler e reler, bem como filmes para rever, hoje em dia são muito poucos os que desconhecem a saga de "O Senhor dos Anéis" ( “Lord of the Ring”. Podemos pensar e bem que esta obra não foi escrita, decididamente, a pensar na adaptação cinematográfica, caso de muitos dos livros que lemos hoje em dia, mas que eles tiveram uma nova vida através da sua Sétima Arte é sem duvida alguma uma verdade indesmentível. Peter Jackson e o "O Senhor dos Anéis" / "The Lord of the Rings" como todos sabemos levaram os Oscars para casa, após a conclusão da saga, transformando a cerimónia desse ano numa edição em que o Vencedor era antecipadamente conhecido e perfeito merecedor das estatuetas.


Nota 1: Convém aqui recordar que esse mago da animação chamado Ralph Bakshi responsável por esse "cult-movie" da contra-cultura intitulado "Fritz the Cat" / "Fritz o Gato", adaptou e realizou para o cinema de animação "The Lord of The Rings", que na época, em Portugal, foi exibido no cinema S. Jorge (1978), mantendo-se sempre fiel aos princípios da animação. "O Senhor dos Anéis" em cinema de animação foi produzido por Saul Zaentz, um nome incontornável na história do cinema. Recorde-se aqui que a voz de Aragon pertence ao actor britânico John Hurt.

Nota 2: Também aconselhamos a leitura do belissímo "Cartas do Pai Natal" que J R R Tolkien escreveu para os seus filhos.


(1) - Embora a personagem do Gollum seja feita através de computador, todos os seus gestos e expressões faciais foram criadas pelo actor Andy Serkins, num trabalho extraordinário.

(2) - Como todos sabemos o actor John Rhys-Davies possui uma estatura elevada, fazendo aqui de anão, outro desafio ganho por Peter Jackson.

Paula Nunes Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário