Paul Greengrass - “Domingo Sangrento” / “Bloody Sunday”

Paul Greengrass
“Domingo Sangrento” / “Bloody Sunday”
(Grã-Bretanha / Irlanda – 2002) – (107 min./Cor)
James Nesbitt, Tim Pigott-Smith, Nicholas Farrelll.

Quando alguém fala do nome de Paul Greengrass de imediato a memória nos envia para os filmes da série Bourne, mas este genial cineasta britânico oriundo do documentarismo e da televisão é detentor de uma eficácia única na forma como retrata os acontecimentos, que nos deixa a todos com os olhos fixos no écran, porque as imagens respiram cinema no verdadeiro sentido da palavra e captam a atenção do espectador, deixando-o positivamente “agarrado à cadeira” se me é permitida a expressão.

Se olharmos para a sua filmografia descobrimos películas que retratam os tempos mais recentes da História e muitas delas com um olhar bastante incómodo para o poder, mas quando a verdade dos factos se revela muitos anos depois dos acontecimentos, convém sempre não nos esquecermos que este é o mundo cínico em que vivemos. E se filmes como “Voo 93” / “United 93” (2006), nos recordam o tristemente célebre atentado do 11 de Setembro de 2001 na América, já “Green Zone: Combate Pela Verdade” / “Green Zone” ( 2010) narra-nos aspectos da invasão do Iraque, que ficaram escondidos da História, enquanto “Capitão Phillips” / “Captain Phillips” aborda a história do sequestro de um navio mercante norte-americano ocorrido na Somália, que nos oferece o retrato desse inacreditável quotidiano que é o assalto aos navios mercantes que passam pelo Golfo de Aden. Mas muitos anos antes destes magníficos filmes, Paul Greengrass realizou o extraordinário “Domingo Sangrento” / “Bloody Sunday” em 2002, certamente o mais brilhante filme da sua fabulosa filmografia.

A 30 de Janeiro de 1972 a situação na Irlanda do Norte era um dos grandes problemas do governo de Britânico e nesse dia foi organizado em Derry uma manifestação pacífica pelos direitos cívicos e pela paz e a resposta encontrada por Londres foi enviar tropas pára-quedistas para impedirem a manifestação e prenderem os líderes do IRA, organização que até nem via com bons olhos o movimento cívico.

Paul Greengrass oferece-nos um extraordinário documento desse dia, com os preparativos, por parte dos dois lados, das acções a empreender nesse dia trágico: os manifestantes liderados pelo deputado Ivan Cooper (magnifico James Nesbitt) e as tropas governamentais sobre a chefia do Major-General Ford (o sempre excelente Tim Pigott-Smith, que muitos se recordam das séries “A Jóia da Coroa” e “Poirot”) e o Brigadeiro Maclellan (Nicholas Farrell que alguns se recordam das séries “Poirot” e “Jane Austen”). A forma como Paul Greengrass filma os acontecimentos é uma verdadeira lição de cinema e depois temos o terrível balanço da História que se saldou em 13 mortos e inúmeros feridos que apenas pretendiam a paz e levaram com uma guerra urbana, que se irá prolongar durante décadas, com centenas de mortos, até se ter atingido a paz.

A exibição de “Domingo Sangrento” de Paul Greengrass no “Sundance TV”, em sinal aberto, é uma excelente oportunidade para todos aqueles que conhecem a celebre canção da banda rock U2 entenderem melhor a canção mais célebre da banda irlandesa, “Sunday Bloody Sunday”, e ao mesmo tempo (re)descobrirem esse célebre lado realista, que sempre caracterizou o cinema britânico, desde o nascimento do denominado “Free Cinema”.

O fabuloso filme “Bloody Sunday” / “Domingo Sangrento” de Paul Greengrass conquistou o Urso de Ouro do Festival de Berlin, entre outros 18 prémios em Festivais de Cinema e tornou-se numa obra incontornável do cinema do século XXI!

Rui Luís Lima