sábado, 4 de maio de 2024

Manuel Mozos - "Quando Troveja"


Manuel Mozos
"Quando Troveja"
(Portugal - 1999) – (90min. / Cor)
Miguel Guilherme, José Wallenstein, Anabela Brigida,
Elsa Valentim, João Perry, Ricardo Aibéo.

Muitas vezes fala-se sobre as dificuldades do Cinema Português no mercado de exibição, mas na maioria das vezes não passamos das palavras aos actos, porque quando eles surgem em cartaz não os vamos ver e depois muitos escrevem sobre "obras invisíveis".(*)

"Quando Troveja", datado de 1999, é um dos expoentes máximos daquilo a que se chamou a singularidade do Cinema Português, obra feita com poucos recursos, mas com uma vontade enorme de criar cinema no verdadeiro sentido da palavra.


Filiado num universo onde o realismo e o fantástico andam de mãos dadas, tendo em conta que estamos perante duas linguagens que se cruzam e completam. De um lado temos a história ou o calvário, se preferirem, de António (Miguel Guilherme) e o triângulo constituído por ele, Rute e Pedro e do outro a história dos Duendes, Violeta e Gaspar, muito próxima do universo de Paula Rego. Logo no início temos o encontro desse triângulo e depois a elipse transporta-nos até ao estado de perdição e abandono de António, um trabalho fabuloso do actor Miguel Guilherme, que nos oferece a sua maior interpretação de sempre.

A pouco e pouco vamos assistindo à sua autodestruição como ser humano, até chegar esse momento capital em que o sentido da vida irá alterar o estatuto daqueles três personagens. Ao mesmo tempo seguimos o percurso de Violeta e Gaspar, narradores paralelos e intervenientes, mas também intérpretes da sua própria história, que decidem alterar o rumo dos acontecimentos.


Numa entrevista, Manuel Mozos refere-se à película com as seguintes palavras: "«Quando Troveja» é um filme menor, tal como todos os filmes que fiz. Mas os filmes menores podem ser bons." Filiado num universo próximo da série B, que tantos filmes maiores deu ao cinema, Manuel Mozos oferece-nos um filme que é urgente descobrir, porque tudo nele é perfeito, e se é uma obra "menor", desejamos que sejam feitas muito mais obras "menores", transmissoras dessa paixão chamada cinema e que desta vez os espectadores de cinema não se esqueçam delas!

(*) – Vi este filme aquando da sua estreia comercial na sala 3 do Cinema S. Jorge e, na sessão a que assisti, era o único espectador presente.

Rui Luís Lima

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