quarta-feira, 1 de maio de 2024

James L. Brooks - “Melhor é Impossível” / “As Good As It Gets”


James L. Brooks
“Melhor é Impossível” / “As Good As It Gets”
(EUA – 1997) – (139 min. / Cor)
Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinear,
Cuba Gooding Jr. Shirley Knight, Harold Ramis.

James L. Brooks é o homem dos sete ofícios ou seja cineasta, produtor, argumentista, actor e muito mais, ele até bateu aquele recorde dos Emmys, ao tornar-se a individualidade a arrecadar até à presente data, nada menos que 19 Emmys!!!


Temos que concordar que na verdade é um grande feito, ele que é o produtor dos “Simpson”, tem-nos oferecido obras no cinema que merecem um olhar atento. Ele, como ninguém, conhece os meandros do pequeno écran e um dia deu-nos essa obra espantosa e implacável com o mundo televisivo, intitulada “Edição Especial” / “Broadcast News”, onde pela primeira vez encontrámos Holly Hunter ao lado de William Hurt, cuja simbiose foi profunda, ao mesmo tempo que o cineasta nos oferecia um retrato bastante negro dos Média.

Recorde-se que James L. Brooks ficou conhecido de todos quando assinou a realização de “Laços de Ternura” / “Terms of Endearment”, onde descobríamos a sua visão do território do melodrama, saindo-se, aliás, muito bem dessa aventura, para além de contar com um naipe de actores que nunca deixam os seus créditos por mãos alheias, como é o caso de Jack Nicholson, Shirley MacLaine, Debra Winger e Jeff Daniels.


Já a sua terceira aventura no cinema intitulada “I’ll Do Anything” é um retrato ácido do mundo do cinema, com um actor desempregado a lutar pela vida nos castings, um Nick Nolte espantoso, que nunca verá a luz ao fundo do túnel e que acabará por se resignar a ser o pai da sua pequena filha que acabou por ultrapassá-lo numa sessão de casting, tornando-se uma verdadeira estrela. Obra desencantada e dolorosa, esta película merece ser reavaliada.

Após este insucesso, James L. Brooks atira-se a um argumento que vai dar frutos de um gosto muito especial e ao criar a figura do escritor Melvin Udall, irá proporcionar a Jack Nicholson uma personagem que ele irá desempenhar como peixe na água.


Melvin Udall é um escritor de enorme sucesso, tendo já escrito 62 romances de grande êxito junto do público feminino, mas a sua relação com as pessoas e o mundo não é a melhor, porque ele não só é profundamente machista, racista e homofóbico, como também maníaco.

E as festas do seu vizinho Simon (Greg Kinnear), com os amigos da comunidade gay, revelam-se um verdadeiro tormento para o escritor. Quando o apartamento de Simon é vandalizado e ele brutalmente agredido, Melvin Udall irá dar, sem saber, uma oportunidade a si mesmo ao decidir tomar conta do pequeno cão do vizinho pintor, porque esse pequeno intruso no seu universo, chamado Verdell, irá alterar o seu quotidiano, como veremos.


No início a desconfiança é mútua mas, a pouco e pouco, o melhor amigo do homem consegue ultrapassar o receio de Melvin Udall e o turbulento escritor começa a olhar o mundo de forma diferente, especialmente quando Carol (Helen Hunt) mete baixa e não está no restaurante para o servir, o que lhe perturba todo o quotidiano. Ele encara a situação como a maior tragédia da sua vida e depois de descobrir o local onde ela vive com a mãe e o filho, envia-lhes o seu médico particular (Harold Ramis) para tratar do problema de saúde do filho de Carol, assumindo todas as despesas. Nasce desta forma uma rua estreita para uma relação entre Carol e Melvin. Mas ao longo do filme a evolução dessa mesma relação desagua num beco sem saída, porque Melvin Udall consegue sempre dizer a frase errada no momento errado, como veremos nesse famoso jantar com Carol, em que este lhe tenta fazer a corte.

James L. Brooks oferece-nos ao longo do filme momentos únicos no território da comédia, numa verdadeira montagem de situações e diálogos, onde como todos sabemos existem sempre as buchas de Jack Nicholson, mas o que encontramos em “Melhor é Impossível” é um retrato profundo sobre as relações humanas, apesar dele surgir no território da comédia e nunca é demais lembrar como esse génio chamado Billy Wilder nos ensinou isso mesmo em “O Apartamento”. Repare-se na forma como a relação de Melvin e Simon evolui ao longo do filme, com o escritor já na parte final a pedir conselhos sobre a forma como há-de lidar com a mulher que ama; a maneira como os amigos de Simon, sempre presentes nas suas festas, se afastam do seu universo, mal sabem que ele se encontra falido; a complexa relação de Simon com os pais devido às suas opções sexuais; a relação mãe e filha, ou seja Carol e Beverly (Shirley Knight, em tempos companheira de Jack Nicholson na vida real) e a maneira diferente como ambas encaram os sentimentos do inconstante Melvin Udall.


Ao longo do filme James L. Brooks consegue tirar o melhor de Jack Nicholson, sendo extremamente curioso o encontro de Melvin Udall com o psicanalista (o cineasta Lawrence Kasdan, numa breve aparição). Já Greg Kinear, cuja interpretação é também extraordinária na pele do pintor gay, consegue oferecer ao personagem momentos únicos no filme, desde a sua convalescença no hospital até nascer esse momento mágico em que retoma o desenho e usa Carol como modelo, para grande desespero de Melvin.

Por seu lado Helen Hunt consegue dar uma tal intensidade à personagem de Carol, que nos deixa a todos fascinados e comovidos, sempre em permanente conflito entre o amor que dedica ao filho e a sua luta na difícil arte de amar Melvin Udall. E será sempre curioso referir que o pequeno cão de Simon termina por ser a única personagem que consegue compreender o neurótico escritor.


James L. Brooks oferece-nos uma película cuja sabedoria nasce no argumento, para depois nos oferecer o maravilhoso talento dos protagonistas de “Melhor é Impossível”, que acabaria por dar a Jack Nicholson e Helen Hunt os respectivos Oscars de Melhor Actor e Melhor Actriz e já agora nunca é demais dizer que o Óscar de Melhor Actor Secundário até ficava muito bem entregue a Greg Kinnear, infelizmente a Academia não pensou dessa forma.

Apesar da passagem do tempo, “As Good As It Gets” continua a maravilhar-nos com a sua Magia, neste poderoso retrato das relações entre seres humanas. E como todos sabemos, nada melhor que a comédia para falar de assuntos sérios e nos oferecer, num sorriso, o verdadeiro estado do mundo.

Rui Luís Lima

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