domingo, 5 de maio de 2024

E. Elias Merhige - "A Sombra do Vampiro" / "Shadow of Vampire"


E. Elias Merhige
"A Sombra do Vampiro" / "Shadow of Vampire"
(Grã-Bretanha/EUA/Luxemburgo - 2000) – (92 min. / Cor)
John Malkovich, Willem Dafoe, Catherine McCormack, Udo Kier, Gary Elwes.

A Sombra do Vampiro” / “Shadow of the Vampire” de E. Elias Merhige, relata-nos essa espantosa aventura que foram as filmagens de “Nosferau, o Vampiro” do cineasta alemão Friedrich Wilhelm. Murnau (que inaugurou com essa película um novo género cinematográfico), concentrando Elias Merhige neste seu filme o foco das atenções sobre o actor Max Schreck, apresentado aqui como um verdadeiro vampiro, numa comovente criação de Willem Dafoe. Recorde-se que, durante algum tempo, alguns até acreditaram que o famoso actor teatral tinha apenas emprestado o nome, sendo a interpretação da personagem feita pelo próprio Murnau, o que se revelou não ser verdadeiro.


Iremos assim, em “Shadow of the Vampire” / “A Sombra do Vampiro”, seguir as pegadas de F. W. Murnau (John Malkovich) na feitura da famosa obra. Após realizar algumas sequências do filme nos Estúdios, o cineasta decide partir com a sua equipa para esse lugar inóspito onde se irá desenrolar toda a acção da película, desconhecendo o elenco a identidade do actor que irá vestir a pele do tenebroso Conde Dracula.


Chegados ao castelo onde se irão processar as filmagens muitos irão perceber, ao verem chegar o actor, que estão perante um verdadeiro vampiro em busca de sangue, esse seu alimento divino, que só F. W. Murnau irá poder controlar, prometendo-lhe o tão desejado alimento sempre para um pouco mais tarde. Aliás, o facto dele nunca permanecer junto da equipa, após o fim das filmagens diárias, começa a levantar suspeitas entre todos, terminando sempre por Murnau dar a sua explicação para o sucedido: o homem é um actor solitário, vindo do teatro, que gosta de preservar a sua arte longe dos olhares alheios.

A forma como Willem Dafoe surge na personagem é simplesmente soberba, veja-se como ele anda e age ao longo do filme, sempre no limite. Olhamos para ele e não o reconhecemos, mas sentimos o terror a respirar em cada fotograma, ao mesmo tempo que esse mesmo terror se vai apossando de toda a equipa de filmagens.


John Malkovich encarna, de forma perfeitamente credível, o génio do cinema F. W. Murnau e a maneira como se encontra construída a película de E. Elias Merhige oferece-nos, de uma forma perfeita, o retrato dessa época de ouro do Cinema Mudo.


À medida que vamos acompanhando o decorrer das filmagens sentimos como a tragédia se aproxima e quando a estrela feminina (Catherine McCormack) surge no plateau, os dados estão definitivamente lançados, porque o vampiro não irá resistir a essa bela tentação, fugindo da alçada do seu mentor.


“A Sombra do Vampiro” / “Shadow of the Vampire” de E. Elias Merhige surge no cinema contemporâneo como uma brilhante e original obra cinematográfica, que nos mergulha no território do fantástico, navegando no interior da própria História do Cinema, com uma profunda paixão pela Sétima Arte, revelando-se como uma genial obra-prima que nos leva a dizer: como o cinema era belo!

Rui Luís Lima

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