domingo, 5 de maio de 2024

Chantal Akerman - “A Cativa” / “La Captive”


Chantal Akerman
“A Cativa” / “La Captive”
(França/Bélgica – 2000) – (118 min. / Cor)
Stanislas Merhar, Sylvie Testud, Olivia Bonamy,
Liliane Rovère, Aurore Clement.

A cineasta belga Chantal Akerman deu nas vistas, pela primeira vez, ao realizar em 1975 a película “Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, em que nos oferece o quotidiano de uma mulher de forma intensa nos seus pequenos gestos, onde a solidão é bem presente.


E no ano seguinte, 1976, irá surpreender o mundo com “Je, Tu, Il, Elle” (que passou no nosso país numa semana sobre a égide dos Cahiers du Cinema”, no Palácio Foz), vestindo a pele da protagonista, sem pudores, oferecendo-nos toda a sua nudez, numa obra dilacerada pelo amor e o desejo.


Navegando sempre num registo onde a ficção e o documentarismo são abordados de forma serena, quase sempre nas margens da distribuição cinematográfica, irá mais uma vez surpreender tudo e todos ao realizar, em 1996, “Um Divã em Nova Iorque” / “Un divan à New York” com William Hurt e Juliette Binoche nos protagonistas, numa comédia amorosa, passada em Paris e New York, que brinca (é o verdadeiro sentido do termo) com a psicanálise, tornando-se esta aventura na ficção mais convencional, no seu maior êxito comercial.


Em virtude de possuir um olhar muito pessoal sobre esse território do amor, é com naturalidade que a iremos encontrar a mergulhar no universo de Marcel Proust, adaptando para os dias de hoje, de forma bastante livre, o quinto volume de “Em Busca do Tempo Perdido”, intitulado “A Prisioneira”, nascendo assim a película “A Cativa” / “La Captive”. Entramos assim nesse território da obsessão pelo ser amado, levado até ao seu extremo, com o ciúme a dilacerar a alma.


Simon (Stanislavs Merhar) vive perdidamente apaixonado por Ariane (Sylvie Testud), seguindo-a para todo o lado, porque no seu íntimo pensa que é vítima de traição. Decide então saber mais do passado do ser amado, desconfiando que ela em tempos tivera uma relação amorosa com outra mulher, a bela Andrée (Olívia Bonamy).


Roído pelo ciúme avassalador que o atinge, começa a transformar a pessoa amada num simples objecto de prazer, que não pode fugir ao seu controlo, para não voltar a cair na tentação proibida, transformando assim a vida em comum num verdadeiro inferno, ao mesmo tempo que a mantém prisioneira do seu ciúme cada vez mais avassalador.


“A Cativa” / “La Captive” de Chantal Akerman oferece-nos assim o universo Proustiano, em toda a sua essência, observado através de um olhar contemporâneo que contagia o espectador, graças à sensibilidade que respira em cada fotograma, onde a subtileza dos movimentos de câmara e a própria construção dos planos, são reveladores do intimismo de uma cineasta, possuidora de um saber transgressor, onde a beleza nos surge de forma verdadeiramente cativante.

Rui Luís Lima

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