segunda-feira, 6 de maio de 2024

Alejandro Gonzalez Iñarritu - “Amor Cão” / “Amores Perros”


Alejandro Gonzalez Iñarritu
“Amor Cão” / “Amores Perros”
(México – 2000) – (154min. / Cor)
Gael Garcia Bernal, Emilio Echevarria, Goya Toledo, Alvaro Guerrero, Vanessa Bauche, Jorge Salina.

Alejandro Gonzalez Iñarritu iniciou a sua carreira na rádio, ao mesmo tempo que estudava cinema e teatro, tornando-se um DJ bem conhecido dos mexicanos, chegando mesmo a compor música para diversos filmes. Rapidamente chegou ao pequeno écran encetando a carreira de produtor, ao mesmo tempo que dava os primeiros passos na publicidade, fazendo a estreia nas longas-metragens com “Amores Peros” / Amor Cão”, uma película dividida em três segmentos, com o mesmo denominador comum ou seja o cão, denominado por muitos como o melhor amigo do homem, num argumento choque de Guilherme Arriaga.


Apostando num realismo bem violento, o realizador convida-nos a visitar na primeira parte, esse mundo marginal onde as lutas de cães e as apostas, são um perigoso jogo, tanto para os seus donos, como para os próprios animais, que lutam uns contra os outros, até ficarem terrivelmente feridos ou encontrando a morte, tal é a ferocidade dos combates. Iremos assim conhecer o expediente encontrado por um jovem mexicano chamado Octávio (Gael Garcia Bernal, que foi a grande revelação da película), que inscreve o seu cão nos famosos duelos, para assim arranjar dinheiro para fugir com a noiva do seu irmão. A forma como Alejandro Iñarritu filme os combates é muitas vezes dolorosa de se ver, tal a crueldade a que assistimos, embora logo no início da película o espectador seja avisado que nenhum animal foi molestado.


Já na segunda parte da película, iremos conhecer uma jovem modelo, (Goya Toledo) que sofrera um terrível acidente de automóvel, ficando deficiente e que se encontra a mudar de apartamento na companhia do seu novo amor, levando consigo o seu pequeno cachorro, que irá fugir para o interior da caixa-de-ar do soalho, ficando lá preso. Valeria tudo fará, para o resgatar, mas os seus esforços são infrutíferos e à medida que o tempo passa somos introduzidos pelos ruídos que começam a surgir, oriundos do interior do soalho, que escutamos num verdadeiro ambiente surrealista, que nos faz recordar de imediato o cinema de Luís Buñuel.


Quando chegamos ao capítulo final, o cineasta introduz-nos no universo do ódio e da vingança, onde iremos conhecer uma personagem denominada “El Chivo” (Emílio Echevarria) que usa os cães para ajustar contas com o passado e a sociedade que o enviou para os caminhos da marginalidade. Sendo de referir que a forma como nos é narrada esta história denota uma certa influência do cinema de Quentin Tarantino.


“Amor Cão” / “Amores Perros” oferece-nos um retrato bem aterrador, de um universo que existe, mas ao qual tantas vezes fechamos os olhos, para não ver o horror que nele habita. A película de estreia de Alejandro Gonzalez Iñarritu conduz-nos à visão desse pesadelo, fruto de um olhar hiper-realista que deixa o espectador verdadeiramente estupefacto.

Rui Luís Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário