segunda-feira, 29 de abril de 2024

Ron Howard - “Resgate” / “Ransom”


Ron Howard
“Resgate” / “Ransom”
(EUA – 1996) – (117 min. / Cor)
Mel Gibson, Rene Russo, Gary Sinise,
Brawley Nolte, Lily Taylor, Delroy Lindo.

“Resgate” será talvez um dos melhores filmes de Ron Howard, um dos cineastas preferidos dos Estúdios Americanos, tudo nele é certinho, não possui aquele “golpe de asa” transformador de uma película em obra-prima, embora esteja a milhas do habitual tarefeiro e aqui podemos descobrir que um dos seus segredos do realizador é a direcção de actores, o “cast” é perfeito e Mel Gibson está no seu melhor, interpretando a personagem Tom Mullen muitos anos antes criada por um excelente Glenn Ford em 1954, sendo dirigido na época por Alex Segal, estamos assim perante mais um “remake” de Hollywood.


Mel Gibson surge assim num papel para o qual foi talhado no cinema, rodeado por excelentes secundários como o brilhante Gary Sinise, um dos maiores valores do cinema norte-americano, procurem ver o seu “Ratos e Homens” (interpretou e realizou), baseado na obra de John Steinbeck e perceberão perfeitamente as qualidades deste actor. Depois temos Delroy Lindo, o detective de serviço e Lili Taylor (a namorada do líder do gang), que apesar das suas enormes qualidades como actriz, não consegue sair da “segunda divisão”, já o mesmo não podemos dizer de René Russo (a mãe da criança) sempre igual a si própria, mas vamos ao filme.


Tom Mullen (Mel Gibson) é dono de uma companhia de aviação e num belo dia em que leva o filho Sean (Brawley Nolte, filho na vida real de Nick Nolte) a passear em Central Park, para a criança desfrutar de uma feira de diversões, vê o filho desaparecer. A operação corre na perfeição para o gang e de imediato surge um pedido de resgate, através de um “e-mail” anónimo. Maris Conner (Lili Taylor), que em tempos trabalhara para o clã Mullen, conhece as rotinas da família, surgindo como o elemento perfeito para tomar conta da criança, que irá ficar de olhos vendados, nunca sabendo a identidade dos raptores. Começa então um “thriller” emocionante, com Mullen a não aceitar as directrizes do FBI, jogando contra tudo e todos na busca do filho, terminando por ir a esse grande meio de comunicação que é a TV, afirmando pagar os dois milhões de dollars a quem lhe fornecer pistas para encontrar o filho.


Desta forma ele invade o território dos raptores, levando o seu líder a alterar os planos, ao mesmo tempo que entra em confronto com os restantes elementos, porque um plano para ser bem sucedido, muitas vezes, tem que navegar ao sabor dos acontecimentos e aqui ninguém melhor do que ele sabe do assunto porque a sua profissão legal se situa do lado da lei. Encontramos assim um Gary Sinise no seu melhor, a receber a recompensa em casa do milionário, só que a sua presença será traída quando a sua voz é reconhecida pela criança. E aqui temos um dos momentos de maior tensão da película, antes já tínhamos tido as habituais perseguições e ajustes de contas, demonstrando como Ron Howard possui uma máquina bem oleada nas suas produções, embora muito se deva ao excelente argumento de Richard Pryor (Life Lessons).


Mel Gibson surge-nos aqui longe do cineasta que se irá revelar através da sua trilogia “Braveheart”, “Passion” e “Apocalypto” e se muitos hoje não gostam das opções do actor transformado em realizador e das suas convicções ultra-religiosas, para já não se falar das suas opções políticas, cujas afirmações públicas tanta tinta têm feito correr nos jornais, somos obrigados a reconhecer que o actor se transformou em autor ou cineasta se preferirem. Mas uma verdade poderá ser dita, se podemos contestar o Mel Gibson cineasta, nunca nos poderemos interrogar sobre o seu valor como actor e “Resgate” é a prova plena das suas qualidades interpretativas.


Quanto a Ron Howard, ao assinar este “remake”, género tão em voga na América, nos dias de hoje, oferece-nos uma película sem mácula, demonstrando o seu saber, ao prender o espectador à cadeira ao longo do filme, criando até uma empatia do espectador com o raptor. Descobrir a nova versão de “Ransom” e confrontá-la com o original é um exercício que merece ser feito, acima de tudo pelo trabalho dos actores, mas também pela forma como Richard Pryor, esse excelente argumentista, nos consegue prender a atenção, à medida que os minutos vão passando e o fumo branco insiste em não surgir.

Rui Luís Lima

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