segunda-feira, 29 de abril de 2024

Lars von Trier - "Ondas de Paixão" / "Breaking the Waves"


Lars von Trier
"Ondas de Paixão" / "Breaking the Waves"
(Dinamarca/Suécia/França/Holanda/Noruega – 1996) – (159 min. / Cor)
Emily Watson, Stellan Skarsgard, Katrin Cartlidge, Udo Kier, Marc Barr.

“Ondas de Paixão” / “Breaking the Waves” revelou o cineasta Lars von Trier, para aqueles que não o conheciam, ao mesmo tempo que ofereceu a Emily Watson o seu melhor desempenho de sempre na figura de Bezz, essa jovem tímida a viver numa pequena comunidade na Escócia, onde a religião surge como um verdadeiro dogma.


Bezz (Emily Watson), ao casar com Jan (Stellan Skarsgärd), pensa ter encontrado finalmente o seu próprio paraíso, mas um acidente numa plataforma petrolífera irá inutilizar para a vida o jovem Jan, que ama perdidamente a esposa.


Por essa mesma razão ela começa a contar-lhe histórias de âmbito sexual, que irão conduzi-lo ao Paraíso com que sonhou, embora a passagem pelo Inferno também esteja bem presente e quando a população começa a ostracizar Bess, apelidando-a de prostituta, pela vida que leva, a tragédia cai sobre ela, recordando em algumas sequências o cinema de Carl Dreyer.


O famoso cineasta do “Dogma”, numa época em que este movimento ainda não existia, convoca para a banda sonora conhecidos temas do rock dos anos setenta, ao mesmo tempo que divide o filme em quadros, oferecendo-nos pinturas como separadores, que nos convidam de imediato a mergulharmos nessa época, hoje em dia infelizmente bastante esquecida, até parece que os anos setenta nunca existiram no calendário. Por outro lado, a forma como nos são apresentados os habitantes da aldeia, incluindo o padre, revela-se como um verdadeiro campo de concentração, onde os olhares reprovadores e a forma como encaram a jovem Bess, nos oferece o retrato perfeito de uma comunidade repleta de tabus, que olha sempre de forma suspeita todos aqueles que sonham com a liberdade, furando as regras da conservadora sociedade, transformando-os em mártires, que mais tarde irão venerar, como se tratassem de santos.


Lars von Trier, esse cineasta dinamarquês que se recusa a viajar de avião, oferece-nos em “Ondas de Paixão” / “Breaking The Waves”, aquela que será possivelmente a sua obra-prima, revelando-nos não só a sua excelente direcção de actores (recorde-se que o então desconhecido Stellan Skarsgärd, enveredou por uma carreira internacional e Emily Watson, que surgiu nas audições descalça, também se tornou num nome a fixar), ao mesmo tempo que demonstra um profundo conhecimento da matéria cinematográfica, construindo uma película que na época se revelou um verdadeiro ovni no interior da produção europeia.


“Ondas de Paixão” / “Breaking The Waves”, mesmo após o surgimento do Manifesto do Dogma, permanece como a mais inovadora e fascinante obra do dinamarquês Lars von Trier, uma película que possui intacta toda a sua magia, não se dando por os anos passarem por ela.

Rui Luís Lima

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