sábado, 13 de abril de 2024

John Boorman - “A Floresta Esmeralda” / “The Emerald Forest”


John Boorman
“A Floresta Esmeralda” / “The Emerald Forest”
(Grã-Bretanha - 1985) - (110 min. / Cor)
Powers Boothe, Meg Foster, Charley Boorman, Gracindo Júnior.

Quando se fala em John Boorman, os cinéfilos mais novos referem imediatamente "O Alfaiate do Panamá", citam John Le Carré, adoram o Pierce Brosnan e esse alfaiate da intriga que é o Geoffrey Rush, nunca deixando de mencionar a filha de Tony Curtis, a Jamie "Wanda" Curtis, já os "velhotes" começam a pensar nesse passeio pelo rio abaixo chamado "Deliverance" / "Fim-de-semana Alucinante", com um Burt Reynolds e um Jon Voight inesquecíveis.


Depois temos ainda aquele confronto entre o cinema inglês e os Estúdios de Hollywood, tão patente nas películas de John Boorman (1), como é o caso de "Rangoon" / "Beyond Rangoon" com uma Patricia Arquete em grande forma, enquanto no fabuloso "Esperança e Glória" / "Hope and Glória" o mundo dos adultos é observado metodicamente, mas de uma forma maravilhada, por uma criança de nove anos durante o blitz londrino da Segunda Grande Guerra.


Situemos este cineasta britânico no universo cinematográfico, já que ele é também o responsável pelo magnifico "Excalibur" ou seja o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, mergulhados numas fabulosas brumas de Avalon, mas também o excelente "remake" de "O Exorcista", teve a sua assinatura, com um Richard Burton a vestir pela terceira vez a pele de um padre, depois dessa obra-prima chamada "A Noite da Iguana" e o pouco conhecido filme de Vincente Minelli "Adeus Ilusões", mas lá estou eu a perder o fio à meada, mas se são daqueles cinéfilos que gostam de descobrir “movies”, procurem ""The General", não é a célebre locomotiva doeBuster Keaton, mas o delicioso filme de John Boorman, que nos relata a vida atribulado de um gangster irlandês, tipo "robin dos bosques" moderno, de seu nome Martin Cahill (excelente a interpretação de Brendan Gleeson), que depois de atormentar os ingleses que o confundem com os membros do IRA, acaba por também "perturbar" a própria organização, infelizmente este magnifico filme passou quase clandestino nas nossas salas de cinema, mas este palavreado todo é para vos falar do meu filme favorito do John Boorma, intitulado "A Floresta Esmeralda".


"The Emerald Forest" conduz-nos até à Amazónia (esse pulmão da terra que ainda resiste ao "progresso"), através do rio e da floresta, elementos fascinantes desta película, que com o seu maravilhoso écran largo invocam, de certa forma, o "ambiente naturalista" de "Deliverance" / “Fim-de-Semana Alucinante”, realizado em 1972, ao mesmo tempo que esta obra, cuja acção se centra na célebre Amazónia, resulta de dois factores: a história real de uma criança raptada por índios sul-americanos e a experiência do próprio cineasta que conviveu com uma dessas tribos. Segundo confessou John Boorman, eles viviam na "idade da pedra", completamente nus, com as suas crenças, num mundo perdido sem contactos com o exterior.


"A Floresta Esmeralda" é a história de Tommy, raptado pelos homens invisíveis (uma das tribos da Amazónia) e o seu reencontro com o pai, dez anos depois, irá revelar-se como um período de tempo demasiado largo para um regresso a casa...


A película de John Boorman é um dos mais belos manifestos ecológicos, pondo em confronto dois tipos de civilização completamente opostos; uma no seu "apogeu", outra à beira da extinção. A força deste filme foi de tal ordem, para os seus intervenientes, que acabou mesmo por transformar o relacionamento entre o realizador e o seu filho Charley (Tommy) que, no início das filmagens, lhe chamava pai e discutia as suas opções e mais tarde o tratava simplesmente por John, seguindo atentamente as indicações dadas pelopai cineasta.


"A Floresta Esmeralda" é um daqueles filmes para descobrir e meditar no silêncio (im)possível das cidades.

(1) - Um pouco como acontece com a obra do britânico Stephen Frears, as películas realizadas no velho continente, respirando a herança do realismo britânico e as obras criadas na poderosa Hollywood, que respiram a memória de um certo cinema clássico!

Rui Luís Lima

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