segunda-feira, 29 de abril de 2024

Joel Coen & Ethan Coen - “Fargo”


Joel Coen & Ethan Coen
“Fargo”
(EUA – 1996) – (98 min. / Cor)
William H. Macy, Frances McDormand, Steve Buscemi,
Peter Stormare, Kristin Rudrud, Harve Presnell.

“Fargo” é sem margens para dúvidas a obra-prima absoluta de Joel e Ethan Coen e logo no início da película mergulhamos no interior da memória do “film noir”, numa perfeita homenagem ao género, ao vermos na neve um carro a aproximar-se com um atrelado, rebocando um outro veículo, ao mesmo tempo que sentimos o ambiente gélido pontuado pela excelente banda sonora de Carter Burwell.


Jerry Lundergaard (William H. Macy) dirige-se a um encontro com dois ex-reclusos, para combinar o rapto da sua própria mulher (Jean Lundergaard, uma típica dona de casa americana), para o respectivo resgate ser pago pelo pai dela, o temível e esperto Wade Gustafson (Harve Presnell), que nunca gostou do genro e desconfia que este se encontra atolado em dívidas. O resgate é um sucesso, mas a violência irá surgir de imediato, com um triplo homicídio: um polícia e um casal de automobilistas que se encontrava num local indesejado para os raptores, à hora e dia errado.


Iremos de imediato perceber como estes dois raptores, enquanto esperam pelo resgate, também não morrem de amores um pelo outro. Já a chefe da polícia local, Marge Gunderson (Frances McDormand, que obteve o Oscar para a Melhor Interpretação Feminina), que se encontra grávida, irá tomar conta do ocorrido iniciando as investigações, junto da população explorando as diversas pistas de forma aparentemente ingénua, mas de uma acutilância bem reveladora do seu cargo, irradiando simpatia e falsa inocência, perante o incauto Jerry Lundergraad (William H. Macy), que termina por se denunciar, ao fugir durante a conversa com a agente.


A forma como Joel e Ethan Coen (Oscar para o Melhor Argumento Original), nos retratam os ambientes das “little towns” e a vida das suas gentes, a acção decorre no Estado do Dakota do Norte, termina por se revelar uma viagem sociologicamente perfeita, ao mesmo tempo que todas as vertentes que caracterizam o denominado “film noir” nos vão surgindo ao longo da película. “Fargo” consegue, desde o primeiro minuto, prender a atenção do espectador, que ao acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, irá ser confrontado com a inépcia dos raptores, que usam a violência de forma gratuita, revelando uma falta de preparação para gerir os diversos acontecimentos.


“Fargo” de Joel e Ethan Coen oferece-nos assim um retrato profundo dos pequenos criminosos e desses delitos, que acontecem no interior da América profunda, tantas vezes retratados no cinema e infelizmente notícia nas cadeias de televisão de todo o mundo, optando os irmãos Coen por introduzir elementos do quotidiano de uma comunidade para pontuar todo o filme, veja-se aliás como nos é dada a relação conjugal entre a Xerife Marge e o marido, passando pelo encontro dela com o antigo colega de escola que se encontra apaixonado.


Com o passar dos anos “Fargo” permanece uma película de uma frescura e de um saber cinematográfico verdadeiramente memoráveis, ao mesmo tempo que conta com interpretações inesquecíveis de todos os seus intervenientes, por mais curto que seja o seu papel. Estamos assim perante uma obra-prima absoluta da dupla Joel Coen e Ethan Coen.

Rui Luís Lima

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