sábado, 20 de abril de 2024

Jean-Marie Straub / Danièle Huillet - "Cézanne"


Jean-Marie Straub / Danièle Huillet
"Cézanne"
(França – 1990) – (52 min. / Cor)

Jean-Marie Straub, desde muito cedo, pensou em abordar a obra do pintor Paul Cézanne, tendo até em 1974 pensado fazer um documentário em que partiria de apenas quatro pinturas do famoso pintor para fazer o seu estudo cinematográfico, mas acabaria por abandonar o projecto, embora ele continuasse a existir no seu universo cinematográfico. Por saber isso mesmo, a Direcção do Grand Palais, aquando de uma retrospectiva do pintor, decidiu fazer-lhe a tão desejada encomenda, no entanto as datas exigidas para a sua feitura colidiram com as filmagens de A Morte de Empédocles” / “ Der Todd des Empedokles”, terminando o cineasta por recusar a encomenda do famoso Museu.


Poucos anos depois irá surgir uma nova encomenda, desta feita levada a cabo pelo Museu d’Orsay e Jean-Marie Straub e Danièle Huillet aceitaram o desafio, alterando como não podia deixar de ser as habituais “regras do jogo”. À medida que vamos vendo a obra pictórica de Cézanne, escutamos trechos de "Madame Bovary"de Flaubert, ao mesmo tempo que a voz-off sempre tão utilizada no formato do documentário dá lugar ao nascimento do diálogo, não como comentário das imagens, como muito bem referiu Jean-Marie Straub, mas sim como um diálogo de ficção, uma espécie de ponto de partida para outras paisagens.


Bruce Jenkins, a propósito deste documentário rodado em 1990 e com a duração de uma média-metragem, escreveu: «a nível crítico, os filmes de Straub e Huillet têm uma forte afinidade com as obras do período final de Cézanne, nas quais ele lançou as bases de uma nova linguagem do modernismo na pintura, antecipando a tensão entre o naturalismo e impressionismo, entre a fidelidade à natureza e o reconhecimento da integridade (e da presença) da superfície pintada. O cinema de Straub e Huillet articula uma tensão semelhante entre o mimetismo e a presença teatral entre o dito e o dizer.»


O “Cézanne” de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, surge assim como uma espécie de convite ao espectador para descobrir a obra cinematográfica deste casal de cineastas, que sempre viveram à margem do sistema, oferecendo no interior dos seus filmes um forte relevo à palavra (ou se preferirem ao texto) construindo desta forma, ao longo dos anos, uma das filmografias mais fascinantes do denominado cinema de autor.


“Cézanne” revela-se um excelente ponto de partida para descobrirmos o universo cinematográfico de Jean-Marie Straub e Daniele Huillet.

Rui Luís Lima

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