terça-feira, 23 de abril de 2024

Eric Rohmer - “A Árvore, o Presidente e a Mediateca” / “L’Arbre, Le Maire et Le Médiathéque”


Eric Rohmer
“A Árvore, o Presidente e a Mediateca” / “L’Arbre, Le Maire et Le Médiathéque”
(França – 1993) – (105 min. / Cor)
Pascal Grehhory, Arieççe Dombasle, Fabrice Luchini,
Clémentine Amouroux, François-Marie Banier.

“A Árvore, o Presidente e a Mediateca”, de Eric Rohmer, é um verdadeiro “ovni” no interior da filmografia deste cineasta francês, tendo sido realizado logo a seguir à feitura de “Conto de Inverno”.
Nesse ano de 1993 Eric Rohmer decidiu oferecer-nos a sua visão do interior da França, partindo da célebre oposição cidade/campo.


Julien Dechaumes (Pascal Greggory) é um Presidente de Câmara Socialista, que sabe não ter hipóteses de ser célebre em Paris, decidindo permanecer na província, onde desenvolve a sua actividade partidária, embora passe a maior parte do tempo na capital Parisiense, pretendendo instalar na cidade onde exerce funções uma enorme Mediateca, símbolo do progresso, num terreno onde se encontra uma árvore milenária.


Iremos assim assistir aos preparativos da construção desse grande empreendimento, que até possui financiamento do Governo, graças aos seus bons conhecimentos no interior do Partido, porém uma voz irá levantar-se contra esse projecto: Marc Rosignol (Fabrice Luchini) professor na pequena cidade.


Embora saiba que a sua luta para impedir a descaracterização da região se encontra votada ao fracasso, Marc Rosignol não desiste de defender os seus pontos de vista e quando é entrevistado por uma jornalista de uma revista, convidada pelo próprio Presidente de Câmara, a sua mensagem surge muito mais sedutora, acabando por se transformar na vedeta da publicação dedicada ao assunto, relegando para plano secundário a outra entrevista dada por Julien Dechaumes, fruto desses anos em que o movimento ecologista dava os primeiros passos.


Em “A Árvore, o Presidente e a Mediateca” / “L’Arbre, le maire et la médiathèque”, Eric Rohmer oferece-nos o confronto entre duas visões do denominado progresso, tomando o cineasta partido pelo campo, em oposição à cidade, ao mesmo tempo que nos apresenta uma película de ficção, que vai beber a sua essência ao documentarismo, veja-se aliás a forma como o Arquitecto nos apresenta o projecto numa conversa com o Presidente de Câmara ou as entrevistas que a jornalista Blandine Lenois (Clémentine Amouroux), faz aos habitantes da pequena cidade de província.


Mais uma vez Eric Rohmer mantém-se fiel ao seu estatuto de autor, construindo um filme com um argumento mínimo, mas bastante “palavroso”, no bom sentido da palavra, como é seu hábito, ou não fosse ele conhecido como o cineasta da palavra, oferecendo-nos uma reflexão sobre os caminhos do denominado progresso e as lutas que ele desperta.

Rui Luís Lima

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