quarta-feira, 27 de março de 2024

Alfred Hitchcock - “Frenzy – Perigo na Noite” / “Frenzy”


Alfred Hitchcock
“Frenzy – Perigo na Noite” / “Frenzy”
(Grã-Bretanha – 1972) – (116 min. / Cor)
Jon Finch, Barry Foster, Alec McCowen, Barbara Leigh-Hunt, Anne Massey.

“Frenzy”, cujo título em Portugal foi “Perigo na Noite”, apresenta-se como o penúltimo filme de Alfred Hitchcock na sua longa e famosa filmografia, revelando-se como uma das películas mais pessoais do Mestre e porventura uma das menos amadas pelo grande público, apesar do cineasta ter investido todo o seu saber neste regresso ao país que o viu nascer.


Será aliás curioso o facto de Alfred Hitchcock surgir como personagem no “trailer”, desempenhando o seu próprio papel a boiar nas águas escuras e sujas do rio Tamisa, falando do filme, para mais tarde comentar presencialmente os diversos acontecimentos/crimes que percorrem “Frenzy”, revelando o seu conhecido humor negro, num convite inesquecível para o público assistir a este policial magnífico, tal como fazia na série de televisão que apresentava.


Um corpo de uma mulher assassinada irá surgir nas águas do Tamisa quando um político, numa manobra de propaganda, se encontra a anunciar a futura limpeza do rio, mas as atenções do público presente, de imediato, fá-los virar costas ao político, para verem a mulher nua a boiar morta nas águas do rio. Ao descobrirem uma gravata em redor do seu pescoço, percebem que se trata de mais um crime do famoso assassino da gravata, um perigoso predador sexual que aterroriza Londres, seguindo as pisadas do lendário Jack O Estripador, que durante tantos anos espalhou o pânico, nunca se descobrindo a sua verdadeira identidade.


Mais uma vez Alfred Hitchcock nos vai oferecer a história do falso culpado, neste caso concreto um antigo piloto da RAF, divorciado, que trabalha num Pub e que é descoberto pelo patrão a beber um whisky no local de trabalho, sendo de imediato despedido, apesar das súplicas da namorada que também ali trabalha.

Desempregado e sem dinheiro, Richard Blaney (Jon Finch), irá encontrar-se com a sua ex-mulher que possui uma Agência de encontros, onde está inscrito o famoso predador sexual, o comerciante Bob Rusk (Barry Foster), de quem Blaney é amigo.


Quando a sua ex-mulher surge morta no escritório, de imediato a secretária desta, uma típica solteirona alérgica a homens, acusa Richard Blaney (Jon Finch) de ter cometido o crime e, assim, o falso culpado irá ser perseguido pela polícia, escapando aos investigadores graças à cumplicidade do próprio assassino, que o irá usar como bode expiatório, terminando por denunciá-lo à polícia.


Em “Frenzy”, pela primeira vez, Alfred Hitchcock apresenta cenas de nudez, possivelmente fruto dos tempos, mas a forma macabra como são filmados os crimes do famoso assassino da gravata revelam-se verdadeiramente inesquecíveis em toda a sua crueza e nudez, revelando desta forma a animalidade do criminoso.


Por outro lado é-nos oferecido, como contraponto aos crimes, os jantares preparados pela esposa do Inspector Oxford (Alex McCowen), encarregado de investigar o caso, comida essa baseada na famosa cozinha francesa e que deixa o mais comum dos mortais com uma enorme falta de apetite, revelando-se aqui a relação muito particular que Hitchcock teve com a gastronomia ao longo dos seus filmes, muito em particular os famosos ovos estrelados, bem visível em “Ladrão de Casaca” / “To Catch a Thief”, e será precisamente durante um desses cruéis jantares, já quando o falso culpado se encontra preso, que o inspector percebe quem é o verdadeiro assassino.


“Frenzy” / “Perigo na Noite”, o mais mal-amado dos filmes de Alfred Hitchcock, merece bem ser revisitado para admirarmos, em todo o seu esplendor, o humor negro do Mestre do Suspense.

Rui Luís Lima

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