domingo, 19 de maio de 2024

David Fincher - “A Rede Social” / “The Social Network”


David Fincher
“A Rede Social” / “The Social Network”
(EUA – 2010) – (120 min./Cor)
Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake.

Numa época em que se fala tanto em redes sociais e milhões usufruem delas, nunca é demais conhecer como tudo começou e este filme de David Fincher oferece-nos a sua história. Só por isso, merece uma visita!

Rui Luís Lima

François Ozon - "Potiche"


François Ozon
"Potiche"
(França – 2010) – (103 min. / Cor)
Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini,
Karin Viard, Judith Godrèche, Jérèmie Renier.

Esta comédia de François Ozon conta no elenco com dois nomes sonantes do cinema francês: Catherine Deneuve e Gérard Depardieu. Mas também será sempre de salientar o contributo memorável oferecido por Karin Viard, na figura da secretária do patrão (recordam-se dela em “A Nova Eva”?) e de Fabrice Luchini, que vimos em “Paris”, nessa figura típica e incontornável desse patrão da década de setenta do século XX.


“Potiche” é um termo equivalente ao célebre “dondoca” e nesta comédia genial de François Ozon, a madame Suzanne Pujol (Catherine Deneuve) é uma verdadeira Potiche que se dedica a cuidar dos filhos, que já não precisam de cuidados, a tratar da casa, embora tenha empregados que lhe tratam de tudo, a amar o marido (embora ele tenha na secretária a amante perfeita e nas meninas da boite o seu suplemento), a escrever os seus estranhos poemas, conversando com o estimável esquilo, logo no início do filme, não se esquecendo do habitual exercício físico, para se manter em forma.


Suzanne Pujol revela-se o retrato perfeito da famosa “dondoca” ou “potiche” se preferirem o termo francês, mas quando o marido é sequestrado pelos operários na fábrica que exigem melhores condições de trabalho, ela terá que arregaçar as mangas e tomar conta da fábrica de chapéus-de-chuva, ao mesmo tempo que ira contar com a ajuda do dirigente comunista Maurice Babin (Gérard Depardieu), com quem em tempos idos teve um caso, para levar assim a bom porto a reconciliação entre trabalhadores e patrão.

A forma como François Ozon nos narra a história é soberba, caracterizando a época com um humor verdadeiramente corrosivo e será sempre curioso comparar esta película com a de Jean-Luc Godard, intitulada “Tout va Bien” / Tudo Vai Bem”, tendo por tema precisamente o sequestro de um patrão numa fábrica e cujo filme foi realizada em meados dos anos setenta, como uma espécie de rescaldo do famoso Maio de 68, tendo como actores Yves Montand e Jane Fonda.


Por outro lado a prestação de Fabrice Luchini (esse fabuloso actor que trabalha as personagens que interpreta de forma inesquecível para o espectador), na figura do temível patrão Robert Pujol, apresenta-se extremamente bem desenhada, já que assistimos ao longo do filme à sua queda, sendo substituído pela esposa “dondoca” no comando dos destinos da fábrica, para depois aceitar os factos, enquanto prepara na sombra o seu regresso, manipulando tudo e todos, conseguindo na célebre reunião da administração da empresa conquistar o voto da sua filha, que assim trai a mãe, possibilitando desta forma o regresso do controlo da fábrica às mãos do seu querido pai, que já tem em seu poder um estudo que prepara a deslocalização da fábrica para a Ásia, esse belo território sem conflitos laborais e onde a mão-de-obra é muito mais barata.

François Ozon

François Ozon com “Potiche – Minha Querida Mulherzinha” fala-nos também da célebre emancipação feminina, não só através da figura de Madame Suzanne Pujol (Catherine Deneuve), a Potiche da película, que se irá libertar do marido, mas também de Nadège (Karin Viard), a amante do patrão, que irá enfrentá-lo, recusando manter esse sempre difícil estatuto de ser a outra, como refere Maria Bethânia na sua célebre canção. “Potiche” não é só uma deliciosa e inesquecível comédia, mas também um magnifico retrato sociológico de uma época, num filme que usa o humor como a mais bela das armas subversivas.

Rui Luís Lima

Ryan Murphy - “Comer, Orar, Amar” / “Eat, Pray, Love”


Ryan Murphy
“Comer, Orar, Amar” / “Eat, Pray, Love”
(EUA – 2010) – (133 min./Cor)
Julia Roberts, Javier Bardem, Richard Jenkins, Billy Crudup.

“Comer, Orar, Amar”, de Elizabeth Gilbert, é um desses best-sellers que nunca irei ler, não por falta de tempo, mas porque tenho outras prioridades e o tempo que me resta é um eterno desconhecido, com tanto covid a navegar invisível por aí!


Mas confesso que vi o filme que, ao ser realizado por Ryan Murphy, me despertou a atenção e também devido ao facto de Julia Roberts ser a protagonista ao lado de nomes como Richard Jenkins e Billy Crudup (dois actores de que gosto bastante), mas rapidamente percebi que estávamos perante uma película “perfeita” para Julia Roberts brilhar perante todas as suas fans, indo de encontro também das leitoras que adoraram este livro, que vendeu como “pãezinhos quentes”, como diria o meu amigo Melvin de “Melhor é Impossível!”


Mas quando surge no filme um jipe conduzido por Felipe (Javier Bardem) entramos nessa arte perfeita que é o cinema e felizmente que ele surgiu e a Liz (Julia Roberts) nem saiu muito magoada do acidente, porque só então as imagens captaram a minha total atenção e embora como sempre sucede nestas coisas, ela mostrou-se difícil perante o amor que lhe era oferecido, mas felizmente percebeu a tempo como estava errada e o happy-end chegou.

Será isto o que chamam spoiler?

Rui Luís Lima

James L. Brooks - “Tens a Certeza?” / “How Do You Know”


James L. Brooks
“Tens a Certeza?” / “How Do You Know”
(EUA - 2010) – (131 min./Cor)
Reese Witherspoon, Paull Rudd, Owen Wlson, Jack Nicholson.

Como sabemos quando estamos apaixonados? Aqui está uma pergunta a que esta comédia romântica tenta dar resposta, através desse cineasta brilhante chamado James L. Brooks.


Por outro lado “Tens a Certeza?” oferece-nos um duelo de actores memorável: Owen Wilson e Paul Rudd (fixem os nomes!). Mas quando nos surge Jack Nicholson no écran, ele é enorme e “rouba as deixas” a todos os presentes.

Rui Luís Lima

Woody Allen - “Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos” / “You Will Meet a Tall Dark Stranger”


Woody Allen
“Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos” / “You Will Meet a Tall Dark Stranger”
(EUA/Espanha – 2010) – (98 min./Cor)
Anthony Hopkins, Naomi Watts, Josh Brolin,Gemma Jones,
Lucy Punch, Pauline Collins, Freda Pinto, Antonio Banderas.

Woody Allen, ao longo do seu trabalho como cineasta, todos os anos nos oferece um novo filme, num ritmo verdadeiramente avassalador, onde a qualidade se encontra sempre presente e mais uma vez neste maravilhoso filme intitulado “Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos” / “You Will Meet a Tall Dark Stranger”, nos iremos cruzar com diversas personagens, todas interligadas entre si, cujas histórias iremos acompanhar e onde a comédia e a tragédia se cruzam de forma soberba, com interpretações memoráveis, especialmente as protagonizadas por Josh Brolin no escritor com bloqueio criativo e a surpreendente Lucy Punch na “call-girl”.

Rui Luís Lima

Paul Haggis - “72 Horas” / “The Next Three Days”


Paul Haggis
“72 Horas” / “The Next Three Days”
(EUA/França – 2010) – (133 min./Cor)
Russell Crowe, Elizabeth Banks, Liam Neeson.

Paul Haggis é um cineasta oriundo da televisão também conhecido como argumentista e cujo nome foi fixado por muitos quando no ano de 2004, o filme “Crash” / “Colisão” arrebatou, contra todas as previsões, o Oscar de Hollywood para o Melhor Filme (bem merecido!), depois de nessa noite já ter arrecadado o de Melhor Argumento (Paul Haggis) e de Melhor Montagem, recordo que o realizador de “Colisão” se chama Paul Haggis!


“72 Horas” / “The Next Three Days” possuía todos os condimentos à partida para se transformar numa excelente película onde o suspense e a luta de um marido em salvar a esposa da cadeia, acusada de assassinato, encontrasse um espaço onde o argumento se expandisse e nos conduzisse a esse território das emoções fortes, algo que infelizmente vamos encontrando esporadicamente, devido à extensão indevida das diversas sequências, onde se pretende instaurar o tão famoso suspense.


Na verdade este “72 Horas” / “The Next Three Days”, desbaratou na montagem do filme, todas as potencialidades do argumento da película, sendo de realçar a interpretação de Elizabeth Banks, enquanto Russell Crowe, peca pelo seu tom monocórdio, que se começa a arrastar de filme para filme.

Rui Luís Lima

Anton Corbijn - “O Americano” / “The American”


Anton Corbijn
“O Americano” / “The American”
(EUA – 2010) – (105 min. / Cor)
George Clooney, Violante Placido, Thekla Euten, Paolo Bonacelli, Johan Laysen.

Anton Corbijn o cineasta de “Control”, que retratou como ninguém o grupo pop Joy Division, atirou-se de armas e bagagens à realização de um “thriller” bem diferente do que é habitual nos tempos presentes, tendo como protagonista esse fabuloso actor chamado George Clooney, que, cada vez mais, nos surge como um homem que gosta de cinema com letra grande, assumindo também o papel de produtor.


“O Americano” / “The American” conta-nos a história de um gangster especialista no fabrico de armas, mas que após um atentado de que será vítima, perde a mulher amada, decidindo retirar-se do meio perigoso que frequenta. Mas nem sempre a vontade de sair é possível e como não podia deixar de ser o seu patrão pede-lhe um último trabalho numa aldeia perdida no interior da Itália.


A forma como Anton Corbijn nos narra a solidão do gangster é soberba, revelando desde logo traços muito próximos do cinema de Bernardo Bertolucci, veja-se aliás a forma como ele filma o corpo da prostituta Clara (Violante Plácido) nos encontros no quarto da pensão com o gangster (George Clooney), assim como a forma como nos são apresentados os habitantes da aldeia, incluindo a relação de amizade que se estabelece entre o padre (Paolo Bonacelli) e o perigoso gangster, padre esse que esconde um terrível segredo no seu interior.


Como não podia deixar de ser o americano percebe desde início que não vai ser fácil deixar a sua profissão, ao mesmo tempo que prepara o seu último trabalho: fabricar uma arma que será recolhida por uma bela rapariga e que se destina inevitavelmente a um assassinato, desconhecendo-se o alvo.


“O Americano” / “The American” com os seus silêncios e contenção, a par de mais uma excelente interpretação de George Clooney, revela-se uma verdadeira lufada de ar fresco no interior do cinema contemporâneo, permitindo ao espectador manter em alta, as expectativas criadas em torno desse cineasta chamado Anton Corbijn.

Rui Luís Lima

Stephen Frears - “Tamara Drew”


Stephen Frears
“Tamara Drew”
(Grã-Bretanha – 2010) – (111 min. / Cor)
Gemma Arterton, Dominic Cooper, Roger Allan,
Tamsin Greig, Bill Camp, Luke Evans, Jessica Barden.

Stephen Frears que tem dividido a sua actividade cinematográfica entre as Ilhas Britânicas e a América, desenvolvendo na sua terra natal um cinema bem oposto ao que cria em Hollywood, oferece-nos em “Tamara Drew”, uma irresistível comédia, baseando-se o argumento da película numa famosa banda desenhada intitulada precisamente “Tamara Drew”, que não é mais do que o nome da protagonista, aqui interpretada por Gemma Arterton, que ira regressar à aldeia onde nasceu para vender a casa da mãe, que entretanto falecera.


Mas antes de conhecermos Tamara Drew, o cineasta convida-nos a visitar o retiro literário fundado pelo casal Hardiment, composto por Nicholas Hardiment (Roger Allam), um escritor de romances policiais, bastante populares, mas cuja qualidade é duvidosa, literariamente falando e Beth Hardiment (Tamsin Greig), a sua fiel esposa, que trata da casa e da cozinha, oferecendo aos participantes maravilhosos acepipes, ao mesmo tempo que despacha o correio dos fans do marido respondendo a todas as cartas e procede à respectiva revisão da escrita do marido, tendo sido ela a criadora da personagem mais famosa dos romances policiais de Nicolas Hardiment. Encontramo-nos assim perante o “casal perfeito”.


A forma como Stephen Frears nos dá a conhecer os “escritores” ou “candidatos a escritor”, se preferirem, presentes no retiro é memorável, temos desde um americano chamado Glen McCreavy (Bill Camp), que se encontra a escrever uma obra sobre Thomas Hardy, investigando a vida sexual e literária do famoso escritor, ao mesmo tempo que vive o célebre “bloqueio criativo”, até uma “escritora” que publica na net, não ganhando nada com isso, até chegarmos a esses amadores, que vivem o sonho de um dia terem o seu livro impresso. Todos eles se encontram fascinados pelo sucesso de Nicholas Hardiment (Roger Allam), encontrando-se ali para descobrirem a receita, esquecendo-se que aqueles retiros literários são um dos negócios mais bem geridos pelo casal.


Mas a chegada de Tamara Drew (Gemma Arterton) vai provocar um verdadeiro reboliço na aldeia, porque a jovem londrina, se encontra bem diferente, depois de ter feito uma operação plástica ao nariz, espalhando sedução pela aldeia, libertando os desejos mais secretos do sexo masculino e a fúria do sexo feminino, ao surgir perante todos com os seus curtos calções vermelhos.


Durante a sua estadia, a jovem irá conhecer o baterista Ben Sergeant (Dominic Cooper), que em pleno espectáculo acaba com a banda, envolvendo-se com a jovem jornalista, que pretende fazer-lhe uma entrevista. Mas o pior ainda está para acontecer, porque a adolescente Jody Long (a fabulosa Jessica Barden), que possui uma atracção fatal pelo músico irá provocar uma verdadeira tempestade sentimental na aldeia, ao enviar diversos “mails” em nome de Tamara Drew, depois de ter entrado na casa desta e usado o seu computador.


Os “mails” provocam o caos e se por um lado Ben deixa Tamara, já o infiel escritor Nicholas Hardiment, que engana a esposa com um enorme saber, irá ser fotografado na companhia de Tamara, fotografia essa enviada para a esposa, que fica à beira de um ataque de nervos, sendo de imediato consolada pelo escritor americano, que vê ali a sua grande oportunidade de ultrapassar o “bloqueio criativo”.


Entramos assim num verdadeiro caos sentimental, que nos irá levar a uma tragédia de um perfeito humor negro, conduzida pela mão de Stephen Frears, que nos oferece uma comédia hilariante, mas repleta de um saber único, ao mesmo tempo que a sua direcção de actores não possui qualquer falha, todos eles estão perfeitos, nas personagens a que dão vida.


“Tamara Drew” de Stephen Frears surge assim, como uma lufada de ar fresco, numa época em que as boas comédias no cinema escasseiam cada vez mais.

Rui Luís Lima

James Mangold - “Dia e Noite” / “Knight and Day”


James Mangold
“Dia e Noite” / “Knight and Day”
(EUA – 2010) – (109 min./Cor)
Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter Sarsgaard.

Tom Cruise já nos tinha surpreendido quando deu corpo e rosto a esse produtor chamado Les Groossman no filme de Ben Stiller, “Tempestade Tropical” / “Tropic Thunder”, em que estava irreconhecível e desta feita, na fabulosa película realizada por James Mangold, irá “gozar” com as personagens dos seus filmes de acção (“Missão Impossível”), ao encarnar um agente implacável chamado Roy Miller, que foi vítima de traição, sendo perseguido pelos serviços secretos. E será quando se cruza por mero acaso no aeroporto com June Havens (Cameron Diaz), que o destino de ambos irá ficar ligado para sempre, para o melhor, mas também para o pior.


James Mangold aborda o cinema de acção através da comédia, revelando um sentido perfeito para trabalhar os célebres efeitos especiais ligados ao género, ao mesmo tempo que nos vai oferecendo citações de diversos filmes bem conhecidos do cinéfilo. “Knight and Day” é um puro divertimento cinematográfico!

Rui Luís Lima

Matthew Vaughn - “X-Men: O Início” / “X-Men: First Class”


Matthew Vaughn
“X-Men: O Início” / “X-Men: First Class”
(EUA – 2011) – (132 min. / Cor)
James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon,
Rose Byrne, Jennifer Lawrence, Oliver Platt.

Nas duas últimas décadas, o cinema norte-americano descobriu nos “comic-books” e nos seus heróis um verdadeiro filão, que não pára de encher as salas de cinema e tem oferecido aos Estúdios das Majors uma enorme fonte de rendimento, revelando-se uma verdadeira mina, explorada até ao infinito pelos executivos dos Estúdios.


As aventuras de X-Men, uma célebre banda desenhada da Marvel, originaram diversos filmes: “X-Men 1.5”, “X-Men 2” e “X-Men o Confronto Final”, até que chegamos a “X-Men: O Início” / “X-Men: First Class”, realizado por Matthew Vaughn, revelando-se este como o seu quarto trabalho, depois de se ter estreado em 2004 com “Layer Cake” / “Crime Organizado”, seguindo-se em 2007 “Stardust” / “O Mistério da Estrela Cadente” e 2010 “Kick Ass” / “O Novo Super Herói”. No entanto, nunca será demais realçar que, por detrás de tudo, se mantém o conhecido Brian Singer, verdadeiro pai da série, se assim lhe poderemos chamar, e na verdade todo o seu saber faz-se sentir nesta película da saga “X-Men”.


Em “X-Men: First Class” iremos saber como tudo começou e pela primeira vez percebe-se o verdadeiro significado dos números inscritos no braço de Magneto, fruto da sua permanência num campo de concentração nazi, durante a Segunda Guerra Mundial; por outro lado o filme oferece-nos a história e o aparecimento dos mutantes no interior da humanidade e a forma como se deu a composição dos dois campos que irão entrar em confronto, chefiados respectivamente por Charles Xavier/Professor X (James McAvoy) e Erik Lenhnsherr/Magneto (Michael Fassbender). Convém desde já referir que ambos os actores cumprem com o que se esperava deles, mas a verdadeira estrela deste filme, para além do argumento bem carpinteirado e dos efeitos especiais bem explorados, reside na personagem do vilão, aqui interpretada pelo actor Kevin Bacon que, como todos sabemos, adora este género de personagens.


O argumento da película, para além de nos oferecer as origens destes mutantes, consegue introduzir um dado bem concreto da história contemporânea no interior da acção, com a inclusão da célebre crise dos mísseis em Cuba ocorrida em inícios dos anos sessenta do século XX, quando o mundo esteve à beira de um conflito nuclear entre as duas superpotências de então: os Estados Unidos da América e a União Soviética. Na verdade este “X-Men” trabalha este tema de forma perfeita em conjugação com o combate entre os mutantes chefiados pelo médico nazi Sebastian Shaw (Kevin Bacon), que só deseja dominar o mundo, sendo ele o criador do célebre capacete de Magneto, um acessório bem conhecido dos fans da série.


O inglês Matthew Vaughn cumpre na realização de “X-Men: O Início” / “X-Men: First Class”, construindo uma película de acção que se vê com agrado e que se situa uns furos bem acima do que é habitual no género. Já no respeitante às interpretações será sempre de destacar o excelente trio de actores constituído por Kevin Bacon, James McAvoy e Michael Fassbender, onde o primeiro não deixa os seus créditos por mãos alheias e os restantes confirmam possuir os dotes necessários para subirem a espinhosa escada da fama. “X-Men: O Início” termina por se revelar um bom filme, que se revê com enorme agrado, ao fazermos um ciclo com os restantes filmes da série.

Rui Luís Lima

Garry Marshall - “Dia dos Namorados” / “Valentine’s Day”


Garry Marshall
“Dia dos Namorados” / “Valentine’s Day”
(EUA – 2010) – (125 min./Cor)
Julia Roberts, Jamie Foxx, Anne Hathaway. Jessica Biel,
Bradley Cooper, Kathy Bates, Shirley MacLaine,
Hector Elizondo, Jennifer Garner, Ashton Kutcher, Eric Dana.

Garry Marshall, que infelizmente já nos deixou, teve o condão ao longo da sua carreira de abordar o cinema através da comédia romântica com enorme saber, mas também o drama, sempre com uma sensibilidade e um sentido de “mise en scéne”, como dizem os franceses, digno de o tratarmos como cineasta e como hoje é dia de São Valentim, também conhecido como “Dia dos Namorados”, se ainda não se decidiu pela prenda, veja este filme, mas se odiar este dia porque foi trocado(a) ou abandonada(o), pode sempre ir até a esse restaurante indiano de que nos fala o filme de Garry Marshall, porque aqui o cineasta e os seus argumentistas não se esqueceram de ninguém neste dia 14 de Fevereiro.


Depois temos um elenco de luxo com um conjunto de histórias no denominado “sistema de mosaico” e aqui o leitor diz-me mas já há “O Amor Acontece” e eu digo-lhe que o filme de Richard Curtis fica a Anos-Luz do filme de Garry Marshall, porque o cineasta norte-americano é perfeito em todas as histórias, não há altos e baixos, como sucedia com o filme realizado pelo mais célebre argumentista britânico de comédias e depois “Dia dos Namorados” / “Valentine’s Day” possui uma montagem que nos prende a todas as histórias, nenhuma delas é rejeitada pelo espectador, todas nos convidam a olhar as diversas personagens da mesma forma porque, como todos sabemos, não há pessoas perfeitas, mas se existe um filme perfeito para este dia 14 de Fevereiro, ele chama-se “Valentine’s Day” e foi realizado por Garry Marshall!

Rui Luís Lima

Florian Henckel von Donnersmarck - “O Turista” / “The Tourist”


Florian Henckel von Donnersmarck
“O Turista” / “The Tourist”
(EUA/França/Itália/Grã-Bretanha – 2010) – (103 min./Cor)
Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany.

O cineasta alemão Florian Henckel von Donnersmarck em 2006 irá surpreender o universo cinematográfico com o seu filme de estreia (anteriormente só tinha feito curtas-metragens), intitulado “As Vidas dos Outros” / “Das Leben der Anderen”, sobre a vida na RDA ou melhor acompanhava a história de um polícia e os métodos de vigilância existentes, para além de nos dar uma visão do funcionamento deste estranho país e dos seus dirigentes, até à famosa queda do Muro de Berlin. Este filme fabuloso terminou por conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.


E como sucede com os vencedores dos Oscars atribuídos a Filmes Estrangeiros em Hollywood, de imediato lhe foram disponibilizados todos os meios pela Indústria para fazer um novo filme e Florian Henckel von Donnersmack optou por realizar um “remake” do fabuloso filme francês de Jérome Salle intitulado “Anthony Zimmer”, sobre o qual já aqui falámos, com Yvan Attal, Sophie Marceau e Samy Frei nos protagonistas, optando o realizador alemão, através da sugestão da Indústria, por nos oferecer como protagonistas o trio constituído por Johnny Depp, Paul Bettany e Angelina Jolie. E se os dois primeiros estão excelentes, como verdadeiros “peixes na água”, a oferecerem-nos o seu enorme talento, já Angelina Jolie é um profundo erro de “casting” e quem conhece o filme original, “Anthony Zimmer”, só suspira pela presença da Sophie Marceau em “O Turista”. Mas felizmente Madame Jolie surge pouco e quando tem a companhia de Johnny Depp ou Paul Bettany eles tomam de imediato conta do écran, prendem a atenção do espectador e “roubam-lhe as deixas”, como por vezes se diz na gíria cinéfila.


Este segundo filme de Florian Henckel von Dononnersmack revela-nos o saber de um realizador, ao qual já podemos certamente chamar cineasta e este “O Turista” / “The Tourist” possui todos os ingredientes para nos introduzir nesses canais por onde navega o dinheiro oriundo de afluentes um pouco poluídos, será este o tema da película e quando o responsável da barragem onde vão desaguar esses afluentes decide criar o seu próprio lago, em vez de tratar da sua legalidade aquática, o dono dessa água decide reaver o seu produto, mas o “cérebro” mudou de identidade/rosto e tanto o seu antigo patrão como a polícia têm dificuldade em descobri-lo, resta assim a mulher amada, com quem ele vai comunicando, para todos lhe seguirem o rasto e a cor do dinheiro…

Rui Luís Lima

Mike Newell - “Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo” / “Prince of Persia: The Sands of Time”


Mike Newell
“Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo” / “Prince of Persia: The Sands of Time”
(EUA – 2010) – (116 min./Cor)
Jake Gyllenhaal, Gemma Arterton, Ben Kingsley, Alfred Molina.

Mike Newell é um cineasta britânico cujo nome num filme é desde logo sinal de qualidade e este filme, inspirado num “vídeo game”, possui todos os ingredientes que fizeram o sucesso do cinema de aventuras desde o período mudo, com os famosos “serials”, até ao sonoro e a respectiva idade de ouro do cinema clássico. E se Ben Kingsley e Alfred Molina não precisam de apresentações, já Jake Gyllenhaal começa a dar nas vistas e a chamar a atenção sobre si, quanto a Gemma Arterton fixem o nome, porque ela é soberba em tudo o que faz!


Divirtam-se com esta aventura cinematográfica e depois procurem o cinema clássico!

Rui Luís Lima

Roman Polanski - “O Escritor Fantasma” / “The Ghost Writer”


Roman Polanski
“O Escritor Fantasma” / “The Ghost Writer”
(Alemanha/França/Inglaterra – 2010) – (129 min. / Cor)
Ewan McGregor, Pierce Brosnan, Olivia Williams. Kim Catrall,
Tom Wilkinson, Timothy Hutton, James Belushi.

Roman Polanski continua genial e recomenda-se vivamente, após a visão de “The Ghost Writer”, sem dúvida alguma uma das mais importantes obras da sua filmografia. Partindo do livro do célebre Robert Harris “The Ghost” (e todos nos recordamos desse outro livro da sua autoria intitulado “Fatherland”, onde a história alternativa respirava por todos os poros, adaptado ao pequeno écran com Rutger Hauer e Miranda Richardson nos protagonistas), o cineasta elaborou com o escritor um poderoso argumento, oferecendo-nos um “thriller” ou “film noir” se preferirem, onde a história política recente nos faz recordar certos acontecimentos, bem conhecidos de todos.


Ewan McGregor (The Ghost) é um escritor que vive de escrever biografias de personagens famosas, que depois assinam em nome próprio a autoria dos livros, uma actividade bem real e rentável, até no nosso país, ficando o nome do seu verdadeiro autor desconhecido de todos, sendo por essa mesma razão conhecido como escritor fantasma.

Pierce Brosnan apresenta-se a vestir a pele do ex-Primeiro-Ministro Britânico Adam Lang, que a meio de um mandato pediu a demissão, tendo depois decidido escrever as suas memórias. Após o anterior escritor fantasma se ter suicidado por razões desconhecidas de todos, Adam Lang Pierce Brosnan, numa excelente composição) decide através do seu Agente Literário contratar um novo escritor para terminar no espaço de um mês a sua biografia.


Ao contrário do que é habitual nestes casos, a oferta pecuniária deste trabalho é demasiado elevada para o novo escritor recusar o trabalho, sendo de imediato convidado a partir para uma ilha situada na costa norte-americana (ilha essa que evoca Martha’s Vineyard), onde o ex-primeiro-ministro Adam Lang (Pierce Brosnan) reside com o seu “staff” e a sua esposa Ruth (Olívia Williams).

É inevitável, ao longo do filme, a imagem de Adam Lang se confundir politicamente com um político bem real e conhecido de muitos, com um percurso idêntico, para além de outros factos que vieram a público fruto de uma guerra que se pretendia invisível. Mas o mais importante do filme de Roman Polanski é a forma contida como ele nos vai oferecendo os factos através do curioso escritor, que como não podia deixar de ser, se interroga pelos motivos que levaram o seu colega de profissão a suicidar-se.


Durante a sua estadia na ilha, “The Ghost Writer” (Ewan McGregor) irá lentamente perceber que tudo o que lhe contam se encontra armadilhado, escondendo passados que nunca poderão ser revelados e quando as televisões de todo o mundo noticiam que o ex-Primeiro-Ministro Britânico Adam Lang terá que se apresentar no Tribunal Penal Internacional, após a divulgação de informações até então desconhecidas levadas ao conhecimento do grande público pelo seu ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, a pequena bola de neve começa a descer a montanha arrastando consigo tudo e todos numa verdadeira avalanche política.

“O Escritor Fantasma” / “The Ghost Writer” surge assim como um dos mais perfeitos “thrillers” políticos da história do cinema, realizado por esse Mestre chamado Roman Polanski, cuja direcção de actores é soberba, conseguindo obter deles sempre o melhor, desde os protagonistas até ao mais secundário dos secundários (veja-se o caso de James Belushi, no papel de editor americano).


Ewan McGregor, Pierce Brosnan e Tom Wilkinson estão soberbos, sendo a grande revelação Olívia Williams (quem se lembra dela na adaptação de “Emma” feita pela BBC?).

Mas perto do final, quando as peças perdidas do puzzle começam a vir à tona da água e a verdade dos factos começa a surgir, o espectador irá perceber porque razão a biografia do ex-Primeiro-Ministro Adam Lang é tão perigosa.


Roman Polanski e Robert Harris vão assim beber na ficção da história contemporânea para criarem um verdadeiro "vintage", que se saboreia até à última gota, deixando o espectador surpreendido com o seu maravilhoso sabor de obra-prima.

Nota: Recomendo também a leitura do livro.

Rui Luís Lima

Roger Michell - “Manhãs Gloriosas” / “Morning Glory”


Roger Michell
“Manhãs Gloriosas” / “Morning Glory”
(EUA – 2010) – (107 min./Cor)
Rachel McAdams, Harrison Ford, Diane Keaton, Jeff Goldblum.

Um olhar bem crítico sobre os valores que predominam nessa triste televisão que nos invade o quotidiano.

Rui Luís Lima

Sylvain Chomet - “O Mágico” / “L’Illusionniste”


Sylvain Chomet
“O Mágico” / “L’Illusionniste”
(França/Inglaterra – 2010) – (79 min. / Cor)

Sylvain Chomet que já tinha surpreendido meio-mundo com o seu “Belleville Rendez-vous” e que mais tarde irá assinar o segmento de animação, incluído no filme colectivo “Paris Je T’aime”, volta a surpreender o universo cinematográfico com “O Mágico” / “L’Illusionniste”, partindo de um argumento escrito pelo célebre cineasta francês Jacques Tati em 1956, que acabaria por nunca realizar a película.


Em “O Mágico” reconhecemos na principal personagem a figura bem conhecida de Jacques Tati, na pele de um ilusionista ou Mágico se preferirem, que em finais dos anos cinquenta vê a sua profissão em risco, nas grandes Salas de Variedades de França e após uma actuação num casamento, em que poucos lhe dão atenção, será convidado por um dos convidados, um escocês ébrio, para mostrar os seus truques de magia, na ilha que este habita na Escócia.


Decidido a dar um novo folgo à sua vida, o impassível Mágico Tatischeff decide partir com os seus truques de magia, acompanhado pelo seu fiel coelho, que ele faz sair da cartola nos palcos e quando chega ao seu destino, irá encontrar na jovem e pobre Alice, que trabalha na pensão onde ele irá residir, temporariamente, uma fan que fica fascinada com a sua magia e quando ele lhe oferece uns sapatos novos para ela substituir os velhos sapatos, sujos e rotos, ela fica maravilhada com ele e decide segui-lo quando este parte para Edimburgo.


Como não podia deixar de ser os espectáculos de Tatischeff já não atraem o público, que prefere escutar os grupos de rock, que começam a surgir na época, mas ele continua a levar a sua bela Arte aos palcos, ao mesmo tempo que tenta encontrar um segundo emprego, que lhe permita continuar a fascinar a jovem Alice, que se sente a viver num verdadeiro país das maravilhas. Assim ele oferece-lhe aquele vestido belo, que ela viu na montra de uma loja, mantendo-a fascinada com a sua arte de magia. Mas os tempos são cada vez mais difíceis para Tatischeff, até que chega esse momento em que ele parte e lhe deixa uma carta revelando-lhe que a magia não existe.


“O Mágico” / “L’Illusionniste” de Sylvain Chomet revela-se como uma verdadeira obra-prima do cinema de animação contemporâneo, demonstrando a sua infinita genialidade perante muitos desses produtos, de baixa qualidade, saídos das três dimensões e dos computadores, que têm invadido as salas de cinema.


Um dos momentos mais fascinantes da película é quando o mágico Tatischeff entra numa sala de cinema e encontra no écran o seu duplo, Jacques Tati, na película “O Meu Tio” / “Mon Oncle”, revelando-se um dos momentos mais belos da película.

“O Mágico” / “L’Illusionniste” é uma obra-prima do cinema de animação, que todos os adultos devem ver na companhia das crianças, para elas voltarem a acreditar na magia da animação a duas dimensões e descobrirem a genialidade desse outro mágico chamado Sylvain Chomet.

Rui Luís Lima